Um jornalista de televisão vítima de um atentado nos arredores de São Paulo
Edson Ferraz, do canal TV Diário, havia revelado vários casos de corrupção e de lavagem de dinheiro envolvendo polícias de sua localidade. Na véspera do atentado que sofreu, no dia 15 de Maio de 2008, recebera um aviso sobre possíveis represálias. Repórteres sem Fronteiras considera a pista profissional como extremamente plausível.
Repórteres sem Fronteiras espera o esclarecimento rápido do atentado de que foi alvo Edson Ferraz, de 25 anos, do canal de televisão privado TV Diário (afiliado à Rede Globo), no dia 15 de Maio de 2008 em Mogi das Cruzes, nos subúrbios de São Paulo (sudeste). O jornalista, que saiu felizmente ileso do ataque, investigava vários casos de corrupção e de lavagem de dinheiro envolvendo dezanove polícias da localidade e já havia sido ameaçado com possíveis represálias.
“A situação de Edson Ferraz evoca em certos aspectos o caso de Luiz Barbon Filho, colaborador do semanário Jornal do Porto, do diário JC Regional e de Rádio Porto FM, cujo assassinato, há um ano, também no Estado de São Paulo, poderia implicar a agentes da Polícia Militar (ler comunicado de 6 de Março de 2008). Tendo em conta as circunstâncias do atentado contra Edson Ferraz, a pista profissional parece plausível e as autoridades devem levar a cabo uma investigação no interior das forças de segurança”, declarou Repórteres sem Fronteiras.
Por volta das 22 horas de 15 de Maio de 2008, Edson Ferraz regressava a sua casa em Mogi das Cruzes, a bordo de um veículo com o logótipo de TV Diário, quando um automóvel preto com duas pessoas no seu interior se atravessou à sua frente. O condutor disparou então duas vezes, felizmente sem atingir o jornalista. Os autores do ataque não tentaram roubar nenhum objeto à vítima, a qual havia recebido na véspera um telefonema aconselhando-a a “ter cuidado”. “Queriam intimidar. Se quisessem matar podiam ter descido e atirado de perto”, afirmou Edson Ferraz ao diário O Estado de São Paulo. O jornalista informou imediatamente a sua redação e a polícia militar da zona. No dia seguinte, deixou a cidade acompanhado pela sua família. No dia 17 de Maio, os responsáveis pela investigação localizaram o automóvel dos agressores nos arredores de Mogi das Cruzes.
Edson Ferraz tinha publicado recentemente várias reportagens sobre casos envolvendo agentes da polícia. Em Abril deste ano, cobrira a acusação e detenção de treze membros do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) - uma unidade de elite da polícia civil de Mogi das Cruzes -, acusados de formar uma quadrilha para cobrar propinas de donos de prostíbulos, desmanches de carros e também de exploradores de máquinas caça-níqueis. O chefe do Garra e um dos acusados, Eduardo Peretti Guimarães, declinou qualquer responsabilidade no atentado contra o jornalista.
Edson Ferraz também acompanhara o caso de dois outros polícias civis de Mogi das Cruzes, suspeitos do roubo do equipamento de uma rádio pirata. Por fim, o repórter tinha igualmente revelado uma tentativa de extorsão de uma padaria por parte de quatro funcionários da polícia local. As autoridades responsáveis pelo caso Edson Ferraz já prometeram uma investigação interna. A Federação Nacional dos Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo denunciaram “um ataque contra a liberdade de imprensa”.