Cingapura, que se orgulha de ser um modelo de desenvolvimento econômico, é um contra-modelo extremamente preocupante no que diz respeito à liberdade de imprensa.
Cenário midiático
Embora Singapura se apresente regularmente como uma cidade-estado na vanguarda do progresso, a liberdade de imprensa e a independência editorial são pouco respeitadas. O Partido da Ação Popular, no poder, rejeita a ideia de que a imprensa seja um “quarto poder” ou um “órgão de controle” dos poderosos, e os cidadãos devem compor com uma máquina de mídia rigidamente controlada pelo governo. Confrontados a inúmeros desafios, os meios de comunicação independentes que cobrem questões políticas e sociais são, portanto, pouco numerosos. Os poucos portais de notícias independentes estão sendo, aos poucos, reduzidos ao silêncio por força do assédio das autoridades, como ocorrido com o site The Online Citizen, forçado a fechar no final de 2021.
Contexto político
No poder continuamente desde a independência de Singapura em 1965, o Partido de Ação Popular (People's Action Party, PAP), do primeiro-ministro Lee Hsien Loong, possui um arsenal que permite ao governo nomear diretamente membros do conselho de administração e editores-chefes dos grandes veículos de comunicação. Cabe a eles fazer cumprir as linhas estabelecidas pelo executivo. Este último também decide se um veículo de imprensa estrangeiro pode ou não ser distribuído ou transmitido na cidade-estado.
Quadro jurídico
Desde a lei “anti-fake news” de 2019, o Executivo pode "corrigir" qualquer informação que considere falsa ou que “diminuiria a confiança do público no governo”. A lei de interferência estrangeira, que entrou em pleno vigor no final de 2023, também contém uma redação demasiado ampla, que poderá ter impacto no trabalho dos meios de comunicação. Em setembro de 2023, o governo de Singapura alertou o diretor da sucursal da revista britânica The Economist, em Singapura, contra qualquer interferência na política interna, simplesmente porque apoiou um novo meio de comunicação independente.
Contexto económico
Dois grandes grupos são proprietários de toda a imprensa escrita, radiofônica e audiovisual. O primeiro, MediaCorp, pertence a uma empresa estatal de investimento. O segundo, SPH Media Trust, foi criado depois que a Singapore Press Holdings transformou seus negócios relacionados à mídia em uma nova empresa. É uma estrutura sem fins lucrativos que recebe financiamento direto do governo. O presidente da SPH Media Trust é um ex-ministro do governo do PAP. Como resultado, a autocensura é generalizada, inclusive dentro da mídia independente que, apesar das formas alternativas de financiamento, é alvo de assédio judicial e econômico sistemático por parte do Executivo.
Contexto sociocultural
As linhas vermelhas implícitas que definem tópicos proibidos – os “Out of Bounds Markers” ou “marcadores do que está fora dos limites” – causam medo e autocensura, o que afeta a cobertura de muitos temas considerados politicamente sensíveis. Tendo em vista que a grande imprensa local não quer ou não pode questionar o discurso do governo, os cidadãos só têm acesso aos pontos de vista aprovados pelo Estado sobre assuntos como o trabalho ou os direitos humanos.
Segurança
Blogueiros e jornalistas independentes foram alvo de processos judiciais, com pedidos de indenização consideráveis apresentados diretamente por altos membros do partido no poder, incluindo o Primeiro-Ministro. Em uma sociedade extremamente conectada, atores da informação que cruzam as linhas vermelhas também podem ser ridicularizados por campanhas difamatórias orquestradas por apoiadores do partido no poder.