Um jornalista ameaçado de morte por um governador de província
Repórteres sem Fronteiras expressa a sua mais viva preocupação na sequência das ameaças de morte proferidas publicamente por Ildefonso Muananthatha, nos dias 16 de 17 de Março, contra Bernardo Carlos, jornalista do quotidiano Notícias. O governador da província de Tete (Centro-Oeste do país) ameaçou o jornalista de sofrer o mesmo destino que o seu colega Carlos Cardoso, assassinado em 2000.
“Condenamos resolutamente as declarações chocantes do governador Muananthatha. A referência a Carlos Cardoso não é inocente, pois a tragédia que representou o seu assassínio permanece gravada na memória de todos os jornalistas moçambicanos. Solicitamos às autoridades que tomem estas ameaças a sério e façam o possível para garantir a segurança do jornalista”, declarou a organização.
No dia 16 de Março, Bernardo Carlos deslocou-se ao distrito de Magoé juntamente com vários colegas do canal público Televisão de Moçambique (TVM), da Rádio Moçambique e do jornal Diário de Moçambique, no intuito de cobrir um comício do governador Muananthatha. Este, no decorrer do seu discurso, afirmou que “a verdade tem o seu preço”. Dirigindo-se a Bernardo Carlos, o governador Muananthatha acrescentou: “Sabes o que aconteceu com o jornalista Carlos Cardoso? Não te admires se um dia acordares sem o braço que estás a usar para me acotovelares.” No dia seguinte, Ildefonso Muananthatha voltou a ameaçar o jornalista.
O governador acusa Bernardo Carlos de ter escrito uma série de artigos sobre a sua política de empregos públicos e de serviços municipais. No centro da polémica encontra-se nomeadamente um artigo acerca do estado da rede eléctrica na região e da gestão das inundações na província de Tete, que há dois anos provocaram numerosos desalojados.
Carlos Cardoso, director de Metical, foi assassinado a 22 de Novembro de 2000 na Avenida Mártires de Machava, em Maputo. O jornalista encontrava-se no seu automóvel conduzido pelo motorista quando dois indivíduos se atravessaram à sua frente e abriram fogo. Atingido várias vezes na cabeça, Carlos Cardoso teve morte imediata. O seu motorista ficou gravemente ferido. Antes de ser morto, o jornalista levava a cabo uma investigação sobre um desvio de fundos na ordem dos vários milhões de euros do Banco Comercial de Moçambique. Carlos Cardoso havia acusado designadamente os irmãos Satar e Vicente Ramaya, três homens de negócios moçambicanos, de estarem envolvidos no caso.