Moçambique: um jornalista desaparecido há dez dias
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) está extremamente preocupada com o paradeiro de um repórter de quem os parentes não recebem notícias desde 7 de abril, em uma província insurgente no norte do país. Considerando que o jornalista estava na presença de militares pouco antes de seu desaparecimento, a RSF pede às autoridades que esclareçam o caso.
Faz dez dias que Ibraimo Abu Mbaruco não dá nenhum sinal de vida a seus parentes. O jornalista e apresentador da rádio comunitária de Palma, vilarejo na província de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique, desapareceu no último dia 7 de abril quando chegava em casa. Em sua última mensagem, enviada a um de seus colegas contatados pela RSF, o jornalista afirmava estar "cercado de soldados". A MISA-Moçambique, organização local de defesa da liberdade de imprensa, revelou em uma investigação realizada no local dos fatos que o jornalista foi sequestrado pelas forças armadas. Uma fonte anônima das forças de segurança especificou que ele teria sido transportado para a cidade de Mueda, um pouco mais ao sul, onde os militares possuem salas para interrogatórios. De acordo com o site de notícias Zitamar News, notório por sua seriedade, várias pessoas teriam sido sequestradas pelas forças de segurança no dia do desaparecimento do jornalista.
Seus familiares imediatamente alertaram as autoridades locais. Uma queixa também foi registrada em 14 de abril junto ao procurador da província. O polícia de Palma informou que todas as forças de segurança foram mobilizadas para tentar localizar o jornalista, acrescentando que ele não estava detido na prisão local e que ela não tinha informações sobre sua morte, como temido por sua família. Até agora, nem o exército nem as autoridades políticas reagiram a esse preocupante desaparecimento.
A violência foi retomada nas últimas semanas na província atormentada por uma insurgência islâmica desde 2007. Os combates com o exército deixaram várias centenas de mortos e as autoridades fazem de tudo para impedir os jornalistas de chegar ao local para informar sobre a situação.
“As informações coletadas até o momento indicam que militares foram testemunhas e, possivelmente, envolvidos no desaparecimento desse jornalista, declarou Arnaud Froger, diretor do escritório da RSF para a África. O silêncio das mais altas autoridades é extremamente preocupante e tememos que este jornalista sofra o mesmo destino que alguns de seus colegas detidos recentemente em segredo por longos meses por cobrirem a violência que abala o norte de Moçambique. É essencial que as autoridades militares e políticas do país esclareçam esse caso e que o jornalista seja libertado, caso esteja realmente detido. Transformar essa província já devastada pela violência em um buraco negro da informação não acabará com a insurgência”.
Raros são os jornalistas que ousam se aventurar nessa região desde que dois repórteres locais da rádio e televisão Nacedje de Macomia, Amade Abubacar e Germano Daniela Adriano, foram detidos pelo exército por vários meses, sem conexão com nenhum procedimento legal, no início de 2019. Libertados há um ano, os dois foram processados por disseminar mensagens “prejudiciais às forças armadas de Moçambique”.
Nesta terça-feira, o jornalista Izidine Acha, do canal privado STV, foi preso quando cobria uma operação policial em Pemba, capital de Cabo Delgado. Liberado poucas horas depois, foi forçado a apagar suas imagens e ordenado a não revelar nada sobre sua prisão.
O bloqueio de informações e as detenções arbitrárias de jornalistas nessa região explicam, em grande parte, a queda de Moçambique, que perdeu 18 posições desde 2015 no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa estabelecido pela RSF. O país ocupava a 103a posição de 180 em 2019.