Um escritor alemão, crítico dos escândalos de vigilância, impedido de voar para os Estados Unidos
Repórteres sem Fronteiras solicita esclarecimentos na sequência da recusa das autoridades migratórias dos Estados Unidos de autorizar o acesso ao seu território de Ilja Trojanow. O jornalista e escritor alemão ficou retido no aeroporto de Salvador da Bahia, a 30 de setembro de 2013, quando devia ter embarcado para Miami. Não lhe foi fornecida nenhuma explicação, embora dispusesse dos documentos necessários para a viagem, de acordo com as nossas informações. Os antecedentes do jornalista em causa deixam antever um delito de opinião.
Ilja Trojanow se manifestara várias vezes em seus textos contra os programas de vigilância em grande escala fomentados pelos Estados Unidos e alguns países aliados. O jornalista e escritor foi, designadamente, um dos autores de uma carta aberta, publicada pelo diário Frankfurter Allgemeine Zeitung do passado dia 18 de setembro, endereçada à chanceler Angela Merkel, pedindo-lhe que tomasse medidas firmes contra as ramificações alemãs de esse sistema de vigilância global.
“Estaremos assistindo à proibição de qualquer crítica, interna ou externa, sobre o escândalo planetário cometido em nome da ‘segurança nacional’ dos Estados Unidos? Caso se confirme que a entrada de Ilja Trojanow em território americano foi denegada devido às suas opiniões sobre esse tema, se trataria de um entrave a um debate de interesse público, indigno do país da Primeira Emenda”, estima Repórteres sem Fronteiras.
“E não será também essa medida uma mensagem enviada ao Brasil, que exige explicações legítimas sobre as práticas de espionagem de que foi alvo a presidente Dilma Rousseff, a qual acaba de anular uma visita oficial a Washington?”, se interroga a organização.
“O Brasil é o país de residência de Glenn Greenwald, um dos jornalistas mais implicados na publicação das revelações de Edward Snowden sobre a vigilância global. O companheiro brasileiro e colaborador de Glenn Greenwald, David Miranda, já fora detido durante nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, sob a alçada do Terrorism Act. Parece difícil excluir uma relação entre um tal contexto e a contrariedade que atingiu Ilja Trojanow”, concluiu Repórteres sem Fronteiras.
Ilja Trojanow pretendia se deslocar ao Colorado para participar de uma conferência. Em 2012, as autoridades consulares americanas já lhe haviam temporariamente recusado um visto, embora tivessem acabado por aceder ao pedido da universidade que convidara o jornalista.