Três jornalistas são vítimas de pressões da Polícia Federal
Repórteres sem Fronteiras denuncia as condições do interrogatório a que foram submetidos Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro, do semanário Veja, no dia 31 de outubro de 2006, em São Paulo. Esse interrogatório ocorreu no âmbito de um inquérito interno à Polícia Federal. Segundo a revista, os três jornalistas sofreram pressões que visavam a discreditá-los e obrigá-los a revelar suas fontes de informação.
“Se as acusações feitas à Polícia Federal pela Veja forem confirmadas, a intimação de Júlia Dailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro será considerada como ato de intimidação e abuso de autoridade. Os jornalistas não têm que ser informantes da Polícia e o direito ao sigilo quanto às fontes de informação é garantido tanto pela Constituição como pela Declaração de Chapultepec relativa à liberdade de expressão e informação, que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em 3 de maio de 2006. Pedimos ao Governo Federal que abra inquérito a respeito das condições em que o interrogatório foi feito e puna quaisquer abusos”, declarou Repórteres sem Fronteiras.
Em edição recente, Veja revelou que os policiais federais encarregados do inquérito sobre a compra de documentos falsificados, que visavam a comprometer os adversários de Lula antes do primeiro turno das eleições, procuravam inocentar Freud Godoy, conselheiro do Presidente reeleito. Esse “escândalo do dossiê” exerceu grande influência sobre a campanha eleitoral.
Com o pretexto oficial de saber como os policiais encarregados do inquérito sobre esse escândalo tentaram abafá-lo, o delegado Moysés Eduardo Ferreira intimou cinco jornalistas da redação de Veja a comparecerem à delegacia no dia 31 de outubro de 2006. Três deles, Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro, acabaram sendo interrogados. Ora, segundo a revista, os jornalistas foram tratados como suspeitos e não como testemunhas.
O delegado Ferreira teria tentado pressionar Júlia Duailibi ao perguntar-lhe por que razões escrevia “coisas falaciosas”. Para surpresa da jornalista, quando da redação do depoimento, o policial tentou atribuir a palavra “falaciosas” a ela própria.
O policial também teria aproveitado a oportunidade para obter informações sobre o “escândalo do dossiê”. Ainda segundo a Veja, Júlia Duailibi foi intimada a revelar quem lhe havia entregado um CD-rom contendo fotos da soma de dinheiro destinada a pagar o dossiê. A jornalista recusou-se a revelar suas fontes. Moysés Eduardo Ferreira acusou, então, os jornalistas da Veja de terem fabricado provas contra a Polícia Federal.
Camila Pereira tinha redigido um artigo baseado em entrevistas com advogados, explicando em que medida o “escândalo do dossiê” poderia comprometer a reeleição de Lula. O policial queria que Camila Pereira dissesse, em seu depoimento, que “normalmente, a revista não paga por esse tipo de colaboração”.
Embora convocados a prestar depoimento como testemunhas, os três jornalistas não tiveram o direito de consultar o advogado que os acompanhava, foram proibidos de se comunicarem entre si e não puderam obter cópia de seus depoimentos.