A proteção dos jornalistas em causa após a morte de um cinegrafista da TV Bandeirantes durante uma operação policial
Cinegrafista do grupo audiovisual Rede Bandeirantes, da qual faz parte o canal com o mesmo nome, Gelson Domingos da Silva cobria uma operação policial na favela de Antares (oeste do Rio de Janeiro) quando foi atingido mortalmente por um tiro de fuzil, na manhã do dia 6 de novembro de 2011.
De 46 anos de idade, o jornalista deixa três filhos e dois netos. São agora cinco os jornalistas mortos no Brasil desde o início do ano, em casos com relação direta ou provável com sua profissão.
“Enviamos os nossos mais sinceros pêsames à família e aos colegas de Gelson Domingos da Silva, cuja morte relembra que as zonas mais perigosas para os jornalistas não se encontram necessariamente nos países em guerra aberta. As interrogações levantadas por essa tragédia se dirigem tanto às autoridades como à mídia, nomeadamente no que diz respeito ao grau de proteção de que dispõem os jornalistas que acompanham esse tipo de operações. No centro da questão, está o problema da ressonância mediática – e de suas consequências – atribuída às intervenções policiais espetaculares, cada vez mais frequentes à medida que se aproximam a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Uma política de segurança desse tipo é alimentada pela midiatização. Essa dependência cria riscos para os jornalistas enviados às favelas, alguns dos quais até moram aí. A segurança das pessoas – jornalistas, testemunhas, habitantes – é mais importante do que a cultura do ‘resultado’ e a corrida às imagens”, estimou Repórteres sem Fronteiras.
O envio de 80 policiais militares de elite, com especial destaque para o célebre BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), desencadeou uma viva troca de tiros com narcotraficantes na favela de Antares, na manhã de 6 de novembro. As forças da ordem anunciaram a captura de nove suspeitos e a morte de outros quatro, para além da apreensão de um volume considerável de drogas e armas. Gelson Domingos da Silva, apesar de estar equipado com um colete à prova de balas, não resistiu a um tiro em pleno peito.
“Esperamos que a investigação apure rapidamente a identidade do autor do tiro fatal. À semelhança de organizações como a União dos Jornalistas do Rio de Janeiro, cremos que um amplo debate acerca dos riscos profissionais e da cobertura do crime organizado contribuiria para tirar as necessárias lições desse drama”, concluiu Repórteres sem Fronteiras.