“Patifes, canalhas, porca...” presidente Bolsonaro dispara contra a Globo

O presidente Jair Bolsonaro criticou e insultou duramente a Rede Globo após a veiculação de uma reportagem destacando um depoimento que envolve seu nome no contexto das investigações sobre o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco. A RSF repudia os ataques, marcados por um discurso de ódio extremamente perigoso e preocupante.

Uma reportagem veiculada na terça-feira 29 de outubro de 2019 pelo Jornal Nacional - programa de jornalismo televisivo de maior audiência do país produzido pela Rede Globo - revelou que o nome do presidente Jair Bolsonaro foi citado em depoimento relacionado às investigações do assassinato da vereadora do município do Rio de Janeiro e defensora dos direitos humanos, Marielle Franco.


Jair Bolsonaro reagiu de forma violenta nas redes sociais para defender sua inocência e acusar a Globo de “trair” e “arrebentar” o país: “Canalhas, patifes, não são patriotas”. Num vídeo de 24 minutos transmitido ao vivo na sua conta de Facebook, o presidente esbraveja: “Esse jornalismo que vocês fazem, jornalismo podre, canalha, sem escrúpulo. Vocês não prestam. Vocês não prestam. Só promovem o que está dando errado. Uma canalhice”. Ele também ameaçou não renovar a concessão da TV Globo em 2022. O presidente publicou em seguida no Twitter uma montagem com a logo da Rede Globo imitando uma saída de esgoto.


Os ataques contra o canal ocorrem um dia após a publicação também na conta oficial do presidente no Twitter de um vídeo no qual um leão, representando Jair Bolsonaro, é cercado por hienas identificadas pelas marcas de supostos adversários políticos, entre os quais diversos veículos de imprensa como a Globo, o jornal Folha de São Paulo, a revista Veja e a Rádio Jovem Pan, além das logos da ONU, do STF e de movimentos sociais e partidos políticos - inclusive o seu próprio. O vídeo foi retirado do ar em poucas horas, o presidente se desculpou publicamente e afirmou ter cometido um “erro”.


Os ‘erros’ do presidente Bolsonaro, assim como suas declarações, têm peso. Ao insultar e humilhar alguns do mais importantes veículos da imprensa nacional, a mais alta autoridade do país contribui e estimula o clima de ódio e de desconfiança generalizada para com o jornalismo” declarou Emmanuel Colombié, diretor do escritório para a América Latina da RSF. “A frequência desses ataques é particularmente preocupante, e as ameaças de Jair Bolsonaro de não renovar a concessão da TV Globo em 2022 são por sua vez extremamente graves e se assemelham à censura”. 


O presidente Bolsonaro proferiu os ataques durante uma viagem diplomática na Ásia e no Oriente Médio. Na segunda-feira 28 de outubro, durante sua estadia na Arábia Saudita, ele declarou ter “certa afinidade” com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, com quem se reuniu. O príncipe é suspeito de estar diretamente envolvido com o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, morto no dia 2 de outubro de 2018 dentro do consulado do país em Istambul, na Turquia.


Após ser alvo dos insultos presidenciais, o Grupo Globo publicou uma nota afirmando fazer “um jornalismo sério e com responsabilidade”, e disse ainda que “revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília”. Em 2018, a RSF denunciou uma tentativa de censura por parte da justiça brasileira que havia proibido a TV Globo de transmitir informações sobre as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco.


O Brasil se encontra na 105a posição no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2019, elaborado pela RSF.

Publié le
Updated on 20.01.2020