Os jornalistas birmaneses Wa Lone e Kyaw Soe Oo finalmente livres, uma vitória para o jornalismo investigativo

É com profundo alívio que a Repórteres sem Fronteiras (RSF) acolhe a notícia da libertação, no dia 7 de maio, dos dois jornalistas da Reuters. A organização saúda uma vitória para a liberdade de imprensa e o jornalismo investigativo na Birmânia e em todo o mundo.

Eles passaram 511 dias longe de sua família por se atreverem a investigar o assunto proibido do genocídio Rohingya. Os dois repórteres da Reuters, Kyaw Soe Oo e Wa Lone, presos em dezembro de 2017 pela polícia, que os emboscou e fabricou provas falsas para incriminá-los, saíram no dia 7 de maio de 2019, da prisão de Insein, um subúrbio de Rangum. Condenados a sete anos de prisão em setembro do ano passado, sentença confirmada duas vezes em recurso, os dois jornalistas foram finalmente perdoados pelo Presidente da República, Win Myint.

 

"Para além do caso de dois indivíduos que nunca deveriam ter estado na prisão, a libertação de Wa Lone e Kyaw Soe Oo é uma vitória fundamental para a liberdade de imprensa e para a RSF, que se mobilizou incansavelmente desde sua prisão, comemora Daniel Bastard, chefe do escritório Ásia-Pacífico da RSF. O caso deles é emblemático da importância do jornalismo investigativo para o exercício da democracia. Saudamos o papel desempenhado por todos os atores da sociedade civil que, dentro do país e em nível internacional, nunca esqueceram o destino dos dois jornalistas e continuaram a luta para chegar a este final feliz."

 

Mobilização

 

Um mês após a sua detenção, a RSF lançou uma petição para conscientizar a opinião pública sobre o caso dos dois repórteres. No dia seguinte à sua condenação, em setembro, a organização também se dirigiu a Aung San Suu Kyi, chefe do governo, numa carta aberta sobre o desprezo com o qual ela lidou com esse caso e para lembrá-la de como a imprensa livre servira no passado à sua luta pela democracia. No processo, um procedimento de alerta foi lançado com relação à posição da Birmânia no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da RSF, temendo um desenvolvimento negativo em 2019.

 

Quando o advogado dos repórteres recorreu em novembro de 2018, a organização se associou a cerca de cinquenta outras organizações birmanesas e internacionais para destacar as numerosas inconsistências jurídicas no processo que levou à sua prisão. No início de 2019, a RSF apoiou oficialmente a candidatura de Wa Lone e Kyaw Soe Oo para o Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa da UNESCO, que foi concedido a eles no mês passado.

 

Ambiguidade

 

A libertação dos dois jornalistas não deve nos fazer esquecer que os jornalistas investigativos birmaneses terão agora de trabalhar com uma espada de Dâmocles sobre suas cabeças. Conforme previsto pela RSF em dezembro de 2018, a hipótese do perdão presidencial após o esgotamento de todos os recursos jurídicos, confirmada hoje, inclui uma grande dose de ambiguidade: o poder civil dá, finalmente, mostras de sua clemência, mas a condenação dos jornalistas sobre o mérito permanece confirmada, criando uma jurisprudência perigosa e permitindo que os círculos militares e nacionalistas preservem sua face.

 

Assim, apesar de Wa Lone e Kyaw Soe Oo terem finalmente reencontrado suas famílias, a mensagem enviada pelas autoridades aos outros jornalistas é assustadora: um ano e meio na prisão, é o preço que pagarão caso ousem investigar os assuntos proibidos.

 

Caindo uma posição com relação a 2018, a Birmânia está atualmente em 138º lugar entre 180 países no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa.

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Updated on 02.10.2020