Mortos por exercerem o jornalismo: o rigor dos dados da RSF
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) contabiliza cotidianamente, em todo o mundo, o número de jornalistas que são vítimas de violência por serem jornalistas: mortos, detidos, reféns e vítimas de desaparecimentos forçados. Uma metodologia rigorosa a serviço de uma causa: proteger os profissionais de imprensa, lutar contra a impunidade dos crimes contra eles e apoiá-los no seu trabalho.
Porque a RSF contabilizou , até 1o de dezembro de 2023, pelo menos 13 jornalistas mortos no exercício das suas funções, e 56 jornalistas mortos no total, em Gaza, desde o início da guerra entre Israel e o Hamas? O que dizem esses números?
Desde 1995, o balanço anual de abusos cometidos contra jornalistas se baseia em dados estabelecidos internacionalmente pela RSF após uma cuidadosa coleta de informações que permitem afirmar com certeza, ou pelo menos com uma presunção muito forte, que a morte, detenção ou sequestro de um jornalista é consequência direta do exercício da sua profissão: isto é, que trabalhava no momento em que foi vítima desse abuso ou que foi deliberadamente alvo desta violação por ser jornalista.
Em todo o mundo, a RSF não considera os casos de jornalistas mortos fora da atividade ou aqueles cujas circunstâncias da morte permanecem desconhecidas.
Para produzir os seus números, a RSF reúne todos os elementos possíveis sobre as circunstâncias da morte de cada jornalista, contando com uma rede de correspondentes em 160 países. São incluídos no barômetro (ferramenta de monitoramento) e no balanço anual (publicado em meados de dezembro) os casos para os quais a organização dispõe de um conjunto de indícios ou elementos conclusivos que permitem considerar que os repórteres foram mortos (ou presos) em decorrência de sua condição de jornalistas (no exercício da sua função ou por causa dela).
“O rigor da metodologia da RSF é o seu ponto forte. Não se trata de uma aglomeração de números recolhidos de terceiros mas sim de uma contagem feita com meticulosidade e rigor por nossa equipe, com base em verificações factuais, com um critério essencial: uma decisão baseada em conjuntos de indícios ou provas. Consideramos que o ônus da prova cabe a nós. Não estaríamos falando sério sobre ser maximalistas se presumíssemos que os jornalistas mortos são mortos no exercício das suas funções. Aqueles que tentam iniciar uma batalha de números estão travando a batalha errada."
Por exemplo, no que diz respeito a Gaza, a RSF identificou até 1o de dezembro pelo menos 13 jornalistas cuja organização conseguiu estabelecer com um grau de certeza suficiente que foram mortos por serem jornalistas. Continuamos investigando incansavelmente para identificar as circunstâncias da morte de todos os repórteres: a casa de algum jornalista em particular foi visada? Ele estava trabalhando? Ele foi visado por causa de sua profissão? Uma pesquisa que, como se imagina, é complexa e demorada.
Além disso, com relação a Gaza, a RSF informa sistematicamente o número total de jornalistas mortos: 56, até 1 de dezembro, em Gaza, de acordo com as nossas informações.
Este trabalho estatístico embasa a nossa defesa pública e institucional para lutar contra a impunidade dos crimes contra jornalistas. Desde 7 de outubro, a organização apresentou, entre outras, uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra cometidos contra jornalistas em Gaza, a terceira desde 2018.