Disparos contra sede de um diário de Manaus, em possível represália após publicação de reportagens sobre temas sensíveis
Repórteres sem Fronteiras solicita medidas reforçadas de proteção para o pessoal do Diário do Amazonas, cuja redação foi alvo de onze disparos, no dia 21 de junho, em Manaus. A organização espera que a relação crispada entre a publicação e as autoridades estaduais não prejudique a investigação sobre este atentado.
Repórteres sem Fronteiras teme pela segurança do pessoal do Diário do Amazonas, na sequência dos tiros disparados contra a sede da redação, no dia 21 de junho de 2008, em Manaus (Norte). Embora a polícia suspeite de antigos funcionários do jornal, a organização recorda que o diário acabava de revelar matérias graves envolvendo o município de Coari, a 363 quilómetros a oeste de Manaus.
“Estamos aliviados por saber que o atentado contra o Diário do Amazonas só causou danos materiais. Porém, como foi sublinhado na imprensa brasileira, o ataque aconteceu vinte e quatro horas depois da detenção de personalidades próximas do prefeito de Coari e acusadas pelo jornal de crimes graves. Cremos que é imperativo não descurar esta pista. O Diário do Amazonas tem-se distinguido pela sua franca oposição ao governo do Estado do Amazonas, mas esta situação não deve constituir um obstáculo à investigação e o pessoal do jornal deve receber proteção reforçada”, declarou Repórteres sem Fronteiras.
Na madrugada do dia 21 de junho, por volta das 4h30, dois indivíduos numa motocicleta, armados com pistola de tipo PT-380, dispararam onze vezes contra a sede do Diário do Amazonas, situada no centro de Manaus. De acordo com os primeiros dados da investigação reproduzidos pela imprensa nacional, seis balas danificaram a entrada principal da redação e outras cinco estilhaçaram os vidros do primeiro andar, onde se encontram os escritórios do presidente e do vice-presidente da publicação. Se sabe que uma câmera de vigilância filmou os acontecimentos, mas ainda não foram reveladas mais informações sobre a investigação aberta pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas. Segundo O Estado de São Paulo, a polícia privilegia a hipótese de vingança de antigos funcionários do jornal.
O Diário do Amazonas também ficou conhecido pelas reportagens sem complacência sobre as práticas da classe política local. No passado dia 15 de janeiro, o diário denunciara o pagamento de 18 milhões de reais (mais de 7 milhões de euros) pelo governador do Estado a uma empresa por obras que não chegaram a ser efetuadas. Além disso, o atentado aconteceu um dia depois de uma operação da Polícia Federal em que foram presas 23 pessoas, relacionadas pessoal ou profissionalmente ao prefeito de Coari, Adail Pinheiro. Há uma semana, o Diário do Amazonas já havia revelado escutas telefónicas que provavam ligações entre o município de Coari e o Tribunal de Justiça do Amazonas. Por último, há quinze dias, o jornal publicara reportagens acusando a prefeitura de Coari de corrupção, desvio de verbas públicas e mesmo, segundo O Globo, de prostituição infantil.