Charlie Hebdo: “o julgamento da forma mais extrema de censura”
Mais de cinco anos após o ataque ao Charlie Hebdo em que foram mortos oito membros da redação, 14 pessoas serão julgadas a partir de 2 de setembro em um processo que também será o julgamento da intolerância religiosa.
O ataque ao Charlie Hebdo será lembrado para sempre como uma “quarta-feira temerosa” na história da imprensa. O julgamento terá início em 2 de setembro e se estenderá até 10 de novembro no Tribunal Criminal Especial de Paris. Quatorze pessoas serão julgadas por terem prestado assistência logística e financeira aos jihadistas franceses que assassinaram 17 pessoas, incluindo oito membros da equipe editorial do Charlie Hebdo. Enquanto gritavam “Allahu akbar”, os irmãos Kouachi mataram, no dia 7 de janeiro de 2015, os cartunistas Cabu, Charb, Tignous, Honoré, Wolinski, os cronistas Bernard Maris e Elsa Cayate e o revisor Mustapha Ourrad.
Não comparecerão ao Tribunal Criminal Especial de Paris três dos 14 réus, possivelmente mortos ou em fuga, nem os três assassinos, abatidos pela polícia. Quanto aos supostos mandantes, sobre os quais as investigações continuam, seu possível envolvimento não será examinado no contexto deste julgamento. Apesar das ausências, o julgamento permitirá, principalmente, fazer justiça aos jornalistas e cartunistas vítimas desta tragédia.
“O julgamento do ataque ao Charlie Hebdo é o julgamento da forma mais extrema de censura, para usar a expressão do escritor George Bernard Shaw, diz Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. Embora as restrições à liberdade de expressão sejam permitidas para proteger os indivíduos, a liberdade de criticar os sistemas de pensamento é absoluta. A intolerância religiosa, ideologia muitas vezes alimentada por Estados, está hoje na raiz de uma violência terrível contra jornalistas.”
Ainda que 90% dos responsáveis por crimes contra jornalistas em todo o mundo fiquem impunes, as audiências que se iniciam em Paris são um passo importante na luta contra essa impunidade. “Este julgamento é essencial para todos os Charlies do mundo,” resume Christophe Deloire.
Durante uma coletiva de imprensa organizada em 6 de janeiro de 2020 com os relatores especiais da ONU para a liberdade de crença e religião e para a liberdade de opinião e expressão e Richard Malka, advogado do Charlie Hebdo, a RSF instou as organizações internacionais e estados a proteger os jornalistas da intolerância religiosa.
Entre os 180 países do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa estabelecido pela RSF em 2020, a França ocupa a 34a posição.