Brasil : deputado Federal Eduardo Bolsonaro contribui com enxurrada de ataques contra jornalista; a RSF condena a “atitude indigna e incendiária”
A jornalista Patrícia Campos Mello, uma das mais respeitadas profissionais da imprensa brasileira, voltou a ser alvo de uma violenta campanha de assédio e difamação. A nova onda de ataques se intensificou com a repercussão em torno de uma declaração feita por um depoente à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News, reproduzida por deputados federais, entre os quais Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) denuncia veementemente esta atitude inaceitável e irresponsável por parte de representantes políticos.
Durante a campanha eleitoral de 2018, a repórter da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello, revelou numa reportagem que empresas privadas estavam pagando por serviços de disparos em massa de mensagens pelo aplicativo WhatsApp para promover uma campanha para atacar o adversário do então candidato à presidência Jair Bolsonaro. A prática é ilegal por se tratar de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada. Após a publicação da reportagem, Patrícia Campos Mello foi violentamente atacada, insultada e ameaçada nas redes sociais.
Com base nas reportagens sobre o caso, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das (CPMI) Fake News convocou para depor, no dia 11 de fevereiro de 2020, Hans River do Nascimento; antigo funcionário de uma das empresas de marketing digital supostamente envolvidas em disparos em massa por WhatsApp durante a campanha eleitoral. O depoente foi uma das fontes contactadas pela jornalista para a elaboração das reportagens. Durante seu testemunho, ele afirmou que a jornalista havia se insinuado sexualmente em troca de informações para a reportagem.
Ainda que imediatamente desmentido pela jornalista e a redação da Folha de São Paulo, as declarações foram repercutidas por deputados federais, entre os quais Eduardo Bolsonaro. No plenário da Câmara, o filho do presidente chegou a declarar que não duvidava que “a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro.” Criticado pelo posicionamento, Eduardo Bolsonaro defendeu que apenas divulgou o depoimento público de uma testemunha, e continuou com insinuações na sua conta do Twitter, seguido por cerca de 1,8 milhões de pessoas. Estas foram amplamente difundidas nas redes e contribuíram com a onda de ameaças e ofensas misóginas contra a jornalista Patrícia Campos Mello.
“A atitude incendiária do deputado Eduardo Bolsonaro, com tomadas de posição que contribuíram com a intensificação da enxurrada de ataques contra Patrícia Campos Mello, é totalmente indigna é inaceitável, declarou o diretor do escritório para a América Latina da Repórteres sem Fronteiras, Emmanuel Colombié. A RSF se solidariza com a jornalista da Folha de São Paulo, e lembra que no Brasil assim como em outros países, representantes eleitos têm a responsabilidade de promover a liberdade de imprensa”.
O Brasil se encontra na 105a posição do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2019, elaborado pela Repórteres sem Fronteiras.