Arábia Saudita: a RSF realizou uma missão inédita pela libertação dos jornalistas em detenção
Durante a abertura da Conferência Mundial sobre Liberdade de Imprensa em Londres (10-11 de julho de 2019), a organização internacional de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem
Fronteiras (RSF) revelou ter realizado uma missão inédita na Arábia Saudita para pedir a libertação de 30 jornalistas em detenção. Para a RSF, esta seria a única maneira de a Arábia Saudita assumir a presidência do G20 após o assassinato de Jamal Khashoggi.
Em plena crise da liberdade de imprensa provocada pelo terrível assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi em outubro de 2018, a RSF foi até Riad em abril para discutir diretamente com as autoridades do governo sobre a necessidade de uma reforma urgente da liberdade de imprensa – uma missão que permaneceu confidencial até o momento devido ao Ramadan, período durante o qual a possibilidade de agraciar prisioneiros é considerada. Mas a Arábia Saudita não aproveitou esta ocasião. Hoje, enquanto o governo saudita permanece sob estreita vigilância internacional após a publicação de um relatório aterrador pelas Nações Unidas sobre o assassinato de Khashoggi e sobre a ascensão da Arábia Saudita à presidência do G20, chegou a hora do reino agir.
O principal objetivo da RSF na Arábia Saudita era gerar discussões sobre a detenção arbitrária e contínua de 30 jornalistas e jornalistas-cidadãos e obter sua libertação. Liderada pelo secretário geral da RSF, Christophe Deloire, a delegação era composta pela diretora do escritório da RSF no Reino Unido Rebecca Vincent, o diretor da RSF Alemanha Christian Mihr e o ex-presidente da RSF Suécia Jonathan Lundqvist. De 21 a 23 de abril, eles se reuniram com autoridades sauditas, entre as quais, o ministro de Relações Exteriores Adel al-Joubeir, o ministro das Comunicações Turki Al-Shabanah, o ministro da Justiça Walid ben Mohammed el-Samaani e o procurador geral Saud al-Mojeb, assim como o presidente da Comissão de Direitos Humanos Bandar Al-Aiban.
“O assassinato de Jamal Khashoggi teve consequências extremamente nefastas para a imagem internacional da Arábia Saudita, sendo mais um ponto negativo para um dos piores países em matéria de liberdade de imprensa. Um sinal político forte por parte do governo saudita se faz hoje necessário para que se comece a desfazer tais consequências. Contudo, na nossa opinião, isto só poderia ser feito através de medidas sérias, como a libertação de todos os jornalistas aprisionados no país”, declarou Christophe Deloire, secretário geral da RSF.
A Arábia Saudita é detentora de um dos piores recordes mundiais em matéria de liberdade de imprensa, com pelo menos 30 jornalistas e jornalistas-cidadãos atualmente mantidos em detenção arbitrária. Pela primeira vez, o reino caiu ao ponto de figurar entre os 10 últimos países no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2019 da RSF. Ela ocupa agora o 172o lugar entre 180 países.
Quatro jornalistas presentes na lista da RSF viram sua situação mudar recentemente. Eman al-Nafjan e Hatoon al-Fassi obtiveram liberdade provisória, enquanto a detenção de dois jornalistas por muito tempo tidos como desaparecidos foi enfim confirmada após terem sido capazes de estabelecer um breve contato com suas famílias. A RSF reitera seu apelo às autoridades sauditas pela libertação imediata e incondicional de todos os 30 jornalistas presos.
“Além de todas as ações que realizamos com o objetivo de proteger os jornalistas através de nossas iniciativas de defesa e nossas campanhas junto às Nações Unidas, o G20 e os fóruns internacionais, estamos convencidos de que uma conversa direta com o governo saudita é necessária. Conseguimos estabelecer um canal de comunicação e continuaremos a fazer pressão para libertar esses 30 jornalistas: é a única maneira de melhorar a situação após o assassinato de Khashoggi”, declarou Christophe Deloire.
- A RSF realizou de forma sistemática ações de defesa e campanhas informativas para que se faça justiça após o assassinato de Jamal Khashoggi e para a libertação dos jornalistas mantidos em detenção arbitrária, tanto no âmbito público quanto no privado, com os governos nacionais e organismos internacionais, em entrevistas na mídia e através de diversas manifestações diante da embaixada da Arábia Saudita em Londres.
- A lista completa estabelecida pela RSF dos 30 jornalistas e jornalistas-cidadãos presos está disponível aqui. Todos os comunicados publicados pela RSF sobre a Arábia Saudita estão disponíveis aqui.