"Uma condenação de Khaled Drareni seria a prova de um rumo autoritário do governo argelino"
Quatro anos de prisão em regime fechado foram pedidos contra o jornalista Khaled Drareni na abertura de seu processo. Para a Repórteres sem Fronteiras (RSF), uma condenação de seu correspondente confirmaria que o governo argelino virou as costas aos ideias da independência do país.
Após quase quatro meses de detenção provisória, o processo do jornalista Khaled Drareni teve início na segunda, dia 3 de agosto, no começo da tarde, no tribunal de Sidi M’hamed, em Alger. Devido à pandemia de Covid-19, a audiência aconteceu por videoconferência. Khaled Drareni apareceu na tela muito abatido, em transmissão a partir da penitenciária de Koléa, próximo a Alger, onde está preso desde 29 de março passado.
Processado por "incitação a aglomeração não armada e atentado à união nacional", depois de cobrir as manifestações do "Hirak", o diretor do site de notícias Casbah Tribune, também correspondente da TV5 Monde e da RSF na Argélia, negou as acusações feitas contra ele. Khaled Drareni, sobretudo, assegurou ter realizado apenas o seu "trabalho como jornalista independente" e exercido "o seu direito de informar, como jornalista e cidadão".
O procurador da república, no entanto, pediu quatro anos de prisão em regime fechado, uma multa de 100 mil dinares argelinos (665 euros), assim como a privação de seus direitos civis. Para justificar suas demandas, o Ministério Público invocou, sobretudo, uma publicação do jornalista no Facebook que afirmava que o sistema político não havia mudado na Argélia após a eleição do presidente Tebboune. Ele também repreendeu Khaled Drareni por ter publicado o comunicado de uma coalizão de partidos políticos legalizados que convocavam uma greve geral.
Vinte advogados se sucederam, então, para pleitear sua defesa, assim como a de duas figuras do Hirak que compareciam ao mesmo tempo. O comitê de defesa dos três acusados demonstrou, principalmente, que nenhuma prova sustentava as acusações apresentadas contra Khaled Drareni e que sua prisão preventiva era contrária à constituição, que proíbe penas de privação da liberdade por fatos relacionados à liberdade de expressão.
"Se os magistrados do tribunal de Sidi M’hamed forem independentes, reconhecerão a vacuidade do caso e determinarão a libertação de Khaled Drareni, garante Christophe Deloire, secretário geral da RSF. Se, ao contrário, os juízes derem continuidade a este processo aberrante, isto seria a demonstração de que a justiça e o governo argelinos deram as costas aos ideais de independência do país. Uma condenação a uma pena de prisão seria a prova de um rumo autoritário. Se Khaled Drareni não for libertado e absolvido nas próximas semanas, nós nos empenharemos em fazer com que a opinião pública conheça a realidade da repressão na Argélia e em mobilizar as organizações internacionais e os governos."
Um comitê de apoio foi criado em 23 de julho passado para Khaled Drareni. Ele é formado por colegas, personalidades e amigos do jornalista, mas também por diferentes organizações e associações.
Pelo menos mais um jornalista argelino está atualmente preso e sendo processado.
A Argélia perdeu cinco posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2020 e ocupa agora o 146o lugar de 180.