Um jornalista mexicano detido na fronteira dos Estados Unidos há dois meses
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) faz um apelo às autoridades americanas para que autorizem a entrada no país do jornalista mexicano Martin Méndez Pineda, alvo de ameaças de morte no estado de Guerrero e que espera desde o dia 5 de fevereiro de 2017 por uma resposta à sua solicitação de asilo político.
A situação de Martin Méndez Pineda, jornalista do diário mexicano Novedades Acapulco (Guerrero), retido há 60 dias em um centro de detenção em El Paso (Texas) pela ICE, o serviço de imigração e de alfândega dos Estados Unidos (Immigration and Customs Enforcement) é extremamente preocupante.
Para fugir das constantes ameaças recebidas no estado de Guerrero, Martin Méndez Pineda cruzou a fronteira no dia 5 de fevereiro de 2017 para pedir asilo político aos Estados Unidos. No dia 1o de março de 2017, foi aprovado na "credible fear interview", teste realizado pelas autoridades americanas para se certificarem de que a ameaça existente contra ele no México são reais. Segundo a ICE, a validação desse teste autoriza o pedido de liberdade condicional e a entrada oficial no território americano. Apesar disso, o jornalista ainda não recebeu resposta favorável ao seu pedido e permanece retido no centro de detenção, em "condições deploráveis" segundo o advogado Carlos Spector, seu único contato com o mundo exterior que o acompanha em seus procedimentos e com quem a equipe de assistência da RSF se comunica regularmente.
Um relatório intitulado Discretion to Deny do Borderland Immigration Council (BIC) revelou, em fevereiro de 2017, os abusos dos agentes americanos nas fronteiras, que agem “como querem e de maneira opaca”, aplicando técnicas de intimidação e de assédio para desencorajar e desestabilizar os solicitantes de asilo que buscam refúgio nos Estados Unidos.
"A Repórteres sem Fronteiras pede à ICE que liberte sem demora Martin Méndez Pineda, declara Emmanuel Colombié, diretor do escritório para a América Latina da organização. "O jornalista, perseguido e ameaçado de morte em seu país, deve poder apresentar livremente em com toda a dignidade sua solicitação de asilo político diante de um juiz de imigração".
No dia 22 de fevereiro de 2016, após ter coberto para o Novedades Acapulco prisões violentas realizadas por agentes da polícia federal durante um acidente de trânsito, Martin Méndez Pineda foi insultado e agredido pelos agentes. Algumas semanas depois, foi ameaçado de morte por indivíduos armados diante de sua casa. Temendo por sua segurança, o jornalista decidiu então se demitir do diário Novedades Acapulco e abrir um processo na Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do México. Com a continuidade das intimidações, especialmente ameaças de morte regulares por meio de telefonemas anônimos para sua casa, Martin decidiu, no início de 2017, fugir para os Estados Unidos, sem previsão de voltar para o México.
O ambiente de trabalho para os jornalistas no estado de Guerrero é extremamente perigoso. De 2003 a 2017, onze assassinatos e um desaparecimento de jornalista foram ali contabilizados pela RSF. O caso mais recente, que remonta a março de 2017, foi o de Cecilio Pineda Birto.
O México, que ocupa o 149o lugar de 180 no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa estabelecido pela RSF em 2016, é o país mais mortífero para as mídias na América Latina. Em 2016, onze jornalistas pagaram com suas vidas pelo seu trabalho de informar, um recorde. Somente no mês de março de 2017, a RSF já lamenta duas tentativas e três assassinatos de jornalistas (Miroslava Breach, Ricardo Monlui Cabrera e Cecilio Pineda Birto).
Em seu relatório intitulado: "Veracruz, os jornalistas diante do medo", publicado em fevereiro de 2017, a RSF oferece detalhes sobre a dificuldade de exercer o trabalho de jornalista no México e propõe uma série de recomendações para que as autoridades federais e locais acabem com essa espiral de violência.