Sob a sombra de Kashoggi e de 27 jornalistas presos na Arábia Saudita, príncipe herdeiro se reúne com Macron
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman (MBS), se encontrará com o presidente francês Emmanuel Macron em Paris, nesta quinta-feira, 28 de julho. A RSF recorda que o líder de fato do reino é suspeito de ter ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi e mantém na prisão pelo menos 27 jornalistas e blogueiros.
“Cerca de quatro anos após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, a reintegração de Mohamed bin Salman nas relações internacionais só pode ocorrer em total desprezo à verdade e à justiça”, declarou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire. "A RSF pede ao presidente francês Emmanuel Macron que intervenha junto a Mohamed bin Salman para libertar os 27 jornalistas atualmente detidos na Arábia Saudita. O reino também deve permitir que Raif Badawi deixe o país, onde cumpriu dez anos de prisão e agora cumpre outros dez de detenção em regime aberto, proibido de viajar, mesmo com sua família residindo no Canadá”, acrescentou.
A cada reunião de MBS com chefes de Estado e governo - Recep Tayyip Erdogan na Turquia em 22 de junho, depois Joe Biden em Riad 16 de julho -, a questão da impunidade em torno do assassinato de Jamal Khashoggi, em 2 de outubro de 2018, no consulado da Arábia Saudita em Istambul, vem à tona. Colaborador do Washington Post, o jornalista saudita havia pedido que fosse devolvida ao reino sua “dignidade”, acabando com a guerra “cruel” no Iêmen e com as novas ondas de prisões após a entronização de MBS, que ele denunciava. Dois relatórios indicaram a responsabilidade de MBS em seu assassinato: o da Relatora Especial da ONU, Agnès Callamard, em outubro de 2019, e o da CIA em fevereiro de 2021.
Em meados de julho, durante a visita do presidente dos EUA, Joe Biden, à região, MBS informou que, no que lhe diz respeito, o caso foi encerrado. O julgamento saudita, realizado a portas fechadas do início ao fim, foi concluído em setembro de 2020 e resultou na condenação em última instância de oito indivíduos a penas variando de três a vinte anos de prisão. No início de abril, a Turquia transferiu o arquivo dos assassinos do jornalista à Justiça saudita. No entanto, nenhum seguimento a este caso foi dado desde então pela Arábia Saudita.
O caso de Raif Badawi também é emblemático. Libertado em março passado, depois de cumprir dez anos de prisão por “insultar o Islã”, o blogueiro está agora proibido de deixar o país pelo mesmo número de anos. Sua esposa e filhos, exilados no Canadá, fizeram vários apelos para que ele se juntasse à sua família.
Pelo menos 27 jornalistas ainda estão atrás das grades na Arábia Saudita. Profissionais de imprensa, blogueiros, analistas acostumados aos palcos da TV... a maioria foi presa sem acusação oficial e sem julgamento. Uma característica os une: haviam fomentado o debate de ideias, enquanto MBS se comprometia com uma série de reformas que traziam esperança. Pensando que o ambicioso programa do príncipe levaria a uma maior abertura, alguns chegaram a manifestar, nas redes sociais, apoio aos prisioneiros de consciência.
O mais recente a ser libertado é Nazeer Al-Majed, em 22 de julho, ao término de sua pena de sete anos de prisão. Mas, ao mesmo tempo, pelo menos dois outros foram condenados. O jornalista iemenita Ali Aboluhom pegou 15 anos de prisão por apostasia, em outubro de 2021, e o sudanês Ahmed Ali Abdulgadir foi condenado a quatro anos de prisão por “insultar instituições estatais”, em junho de 2021.
Desde a nomeação de Mohamed bin Salman como príncipe herdeiro em 2017, as ondas de prisões de jornalistas se multiplicaram. MBS está na lista de predadores da liberdade de imprensa elaborada pela RSF.