RSF organiza funeral simbólico do jornal Apple Daily de Hong Kong e alerta para risco de perda total da liberdade de imprensa na China
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) organizou neste dia 25 de julho um funeral simbólico diante das embaixadas chinesas de Paris e Berlim para protestar contra a morte do jornal Apple Daily em Hong Kong e alertar o mundo sobre o perigo que o regime de Pequim representa para a liberdade de imprensa mundial.
Em Paris, a equipe da RSF, acompanhada por um carro fúnebre, depositou em frente à Embaixada da China um caixão acompanhado por uma coroa de flores e uma placa fúnebre na qual se lia "Apple Daily (1995-2021)". Em Berlim, a RSF também “sepultou" simbolicamente o diário Apple Daily, um dos últimos grandes meios de comunicação em língua chinesa a ousar criticar o regime de Pequim.
Dois dias antes, o Apple Daily havia anunciado a interrupção de suas atividades a partir de domingo, 27 de junho, e a publicação da última edição impressa na quinta-feira, 24 de junho, após o congelamento de seus ativos imposto pelo governo de Hong Kong, que deixou o veículo sem condições de pagar seus funcionários e fornecedores.
A RSF condena o assassinato deste veículo de imprensa cometido pela líder do Executivo Carrie Lam, por ordem do presidente chinês Xi Jinping, e faz um novo apelo pela liberação imediata de todos funcionários do Apple Daily condenados e detidos, como Jimmy Lai, fundador do jornal e vencedor do Prêmio RSF para Liberdade de Imprensa 2020.
“Estamos reunidos hoje para alertar a comunidade internacional sobre o perigo de morte que paira sobre a liberdade de imprensa em Hong Kong. As democracias não podem ficar de braços cruzados enquanto o regime chinês suprime metodicamente o que resta da mídia independente em Hong Kong, como já fez no restante do país”, declarou o Secretário-Geral da RSF, Christophe Deloire, em frente à Embaixada da China em Paris. “Hoje, realizamos o funeral do Apple Daily, amanhã talvez tenhamos que comparecer ao funeral da liberdade de imprensa na China. É hora de a comunidade internacional agir, de acordo com os seus valores, para defender o que resta da imprensa independente em Hong Kong, antes que ela se torne também vítima do modelo repressivo chinês."
Christophe Deloire também questionou o embaixador chinês na França, Lu Shaye, que, na semana passada, havia chamado respectivamente de "máquina midiática" e de "hienas loucas" os meios de comunicação e jornalistas críticos do regime chinês, negando ainda a importância da pluralidade da mídia: "Com dois ou três grupos e algumas pessoas, podemos nos tornar a vanguarda da guerra da opinião pública e podemos coordenar bem essa guerra". No ano passado, no início da pandemia Covid-19, Lu Shaye não hesitou em atacar a imprensa francesa como um todo, afirmando: "Não estou dizendo que os meios de comunicação franceses sempre contam mentiras sobre a China, mas muitas das reportagens sobre a China não são verdadeiras".
No início desta semana, a RSF acionou em caráter de urgência a ONU, pedindo que esta "tomasse todas as medidas necessárias" para preservar a liberdade de imprensa em Hong Kong.
Outrora um bastião da liberdade de imprensa, Hong Kong passou do 18o lugar em 2002 ao 80o lugar em 2021 no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da RSF. A República Popular da China, por sua vez, estagnou no 177o lugar entre 180 países.