A RSF inaugura o primeiro Centro para a proteção das jornalistas afegãs
Na véspera do Dia Internacional da Mulher, a Repórteres sem Fronteiras (RSF) tem o orgulho de anunciar a abertura do primeiro Centro de mídias destinado à proteção das jornalistas afegãs. Para a ocasião, a ONG foi a Cabul, no Afeganistão, para uma cerimônia que contou com a presença de inúmeras personalidades políticas e da sociedade civil.
No dia 7 de março de 2017, a RSF inaugura o primeiro Centro de Mídias para a Proteção das Jornalistas Afegãs (Media for the Protection of Afghan Women Journalists - CPAJW), durante uma cerimônia oficial em Cabul, da qual participam Kamal Sadat e Spozhmai Wardak, respectivamente vice-ministros da Informação e da Cultura e da Condição Feminina, Fawzia Kofi, presidente da Comissão de Mulheres no Parlamento, Zohra Yousof, conselheiro da Primeira Dama Rola Ghani, Dr. Nasri Oryakhail, ministro do Trabalho e das Questões Sociais... Dirigido pela famosa jornalista afegã Farideh Nekzad, o Centro é a primeira organização afegã criada por e para mulheres jornalistas. Ele tem como vocação apoiar e proteger essas jornalistas, especialmente aquelas que trabalham nas províncias mais remotas do Afeganistão e que são, por isso mesmo, especialmente vulneráveis.
"Com a criação do centro, queremos enviar um sinal claro às jornalistas afegãs, mas também a todas as mulheres do país, declarou Farideh Nikzad, diretora e co-fundadora do centro junto com a RSF. Queremos apoiar essas jornalistas em zonas de conflito, mas também dentro de suas redações, defendendo seus direitos e sua integridade física. Para isso, precisamos que o governo e os proprietários de mídias assumam suas responsabilidades nessa luta fundamental para a sociedade afegã".
Co-fundado pela RSF, o CPAJW pretende lutar contra todas os tipos de pressões, sociais e materiais, com as quais são confrontadas as jornalistas no exercício de sua profissão. O Centro oferece um local de troca, para que as jornalistas, especialmente aquelas que trabalham em zonas remotas, possam se beneficiar de redes de informação e de contatos, necessárias para suas atividades profissionais. Serão enviadas recomendações às autoridades para que apliquem, em especial, as leis sobre cotas de mulheres em veículos de mídia. O centro se dirigirá também aos proprietários de veículos de imprensa para combater a discriminação dentro das redações e protegê-las melhor. Para este fim, o CPAWJ oferecerá cursos de segurança física e digital.
"Estamos orgulhosos de anunciar a criação desse primeiro centro de proteção de jornalistas afegãs, declarou Christophe Deloire, secretário geral da RSF. Essas jornalistas são duplamente vítimas, da guerra imposta pelos talibãs e pelos combatentes do Daesh, por um lado, e das fortes pressões exercidas por aqueles que as cercam, por outro lado. Todos os anos, dezenas delas são ameaçadas, agredidas ou forçadas ao exílio. Ao proteger as mulheres jornalistas, é a liberdade de imprensa no Afeganistão que nós defendemos."
O CPAWJ já conta com a colaboração de 10 mulheres jornalistas em 10 províncias do país, das quais 5 vivem em zonas de conflito, formando a primeira rede feminina na profissão. O objetivo é estender a rede a todo o país.
Uma imprensa feminina histórica, mas sob pressão
A presença de mulheres nas mídias do Afeganistão é uma conquista importante. Já em 1918, as primeiras jornalistas faziam sua estreia na rádio, uma década que viu também o surgimento da imprensa feminina. Contudo, estas últimas sempre estiveram na linha de frente, vítimas dos conflitos que o país atravessou - guerra civil de 1992-1996 e reinado dos Talibãs, 1996-2001. Desde 2003, as jornalistas voltaram a enfrentar inúmeras dificuldades, especialmente de segurança.
À insegurança, juntam-se obstáculos sociais, geralmente impostos por pessoas próximas às jornalistas. Em alguns casos, são as próprias famílias que, por medo da insegurança e das ameaças das quais elas podem ser vítimas, se tornam um elemento de pressão. Segundo o estudo de uma organização local, 53% das famílias têm problemas com o fato de que sua filha trabalha. Se em Cabul a porcentagem é de 20%, em Candaar ou Nangarhar ela sobe para 80%.
Desde 2002, pelo menos quatro jornalistas, entre elas Shaima Rezayee (Tolo) em 2005 e Shakiba Sanga Amaj (Shamshad) em 2007, foram mortas por seus próximos, vítimas ao mesmo tempo da propaganda fundamentalista a favor da proibição de trabalho para as mulheres, em uma sociedade patriarcal, e da ausência de proteção por parte das autoridades. Estas são, com frequência, alvo de críticas com relação à sua falta de esforços para melhorar as condições de vida das mulheres. Segundo a ONU, há seis anos, as violências contra mulheres, e especialmente contra as jornalistas, aumentaram em 60% no país. Dezenas delas foram agredidas, ameaçadas ou forçadas ao silêncio nas províncias mais remotas, como Nangarhar.
Muitas foram obrigadas a abandonar seu trabalho. Em algumas regiões, não existe mais nenhuma mulher jornalista. Entre os 10 jornalistas e colaboradores das mídias mortos em 2016, três eram mulheres. Desde 2001, treze jornalistas e colaboradoras das mídias, entre as quais cinco estrangeiras, foram mortas. Além disso, pelo menos dez foram obrigadas a fugir do país.
O Afeganistão ocupa a 120a posição, de 180, na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa estabelecida pela Repórteres sem Fronteiras em 2016.