Repórteres sem Fronteiras lança programa de apoio ao jornalismo independente no Brasil
O Programa de Apoio ao Jornalismo (PAJor) da Repórteres sem Fronteiras (RSF) visa fortalecer a mídia independente no Brasil e promover a liberdade de imprensa. O projeto terá 3 anos de duração e vai contribuir com uma rede de 8 veículos de comunicação espalhados por 3 regiões do país.
A mídia independente e plural é condição indispensável para a construção e a consolidação da democracia em qualquer país. Não há democracia efetiva sem uma real diversidade de vozes. E é a partir destas premissas que a Repórteres Sem Fronteiras lança o Programa de Apoio ao Jornalismo (PAJor). O projeto reúne organizações de 4 estados brasileiros: Amazônia Real e Rede Wayuri do Amazonas; Ação Comunitária Caranguejo Uçá e Marco Zero Conteúdo, de Pernambuco; Data_labe e Fala Roça, do Rio de Janeiro; Alma Preta e Nós, mulheres da periferia, de São Paulo.
Estes 8 veículos vêm exercendo papel decisivo na mobilização em torno da defesa dos direitos humanos e na divulgação da cultura periférica - tanto na sua diversidade de expressões culturais e artísticas, quanto na produção de conhecimento e representação política. A atuação de suas equipes, comumente, representa a garantia do direito à informação confiável para camadas da população que estão à margem dos processos de comunicação hegemônicos.
No entanto, essas mídias trabalham num cenário de grande insegurança. A polarização do debate político no país tornou seus comunicadores alvo recorrente de ataques como ameaças, assédio digital e agressões físicas. Além disso, estes grupos têm menor visibilidade e pouco, ou nenhum, suporte institucional em comparação com as grandes redações.
"Na última década, mais de 40 jornalistas foram assassinados no Brasil. O que vemos hoje é um ambiente cada vez mais hostil à prática do jornalismo. Comunicadores são frequentemente ameaçados e assediados por estarem realizando seu trabalho, afetados diretamente por um discurso oficial por parte do governo que estigmatiza a profissão", ressalta Emmanuel Colombié, diretor do escritório para a América Latina da Repórteres sem Fronteiras.
Para combater essa situação de grande vulnerabilidade, o PAJor vai agir segundo uma lógica de colaboração e apoiará os veículos na elaboração de protocolos de segurança digital e física. Também serão realizadas oficinas sobre desenvolvimento institucional e sustentabilidade financeira, voltadas para o fortalecimento de cada mídia enquanto organização.
O debate sobre liberdade de expressão será transversal aos 3 anos de projeto, através da realização de rodas de conversas e conferências sobre o tema. O programa prevê ainda intercâmbios entre os grupos participantes e a produção de reportagens em parceria.
#DefendingVoices
O Programa de Apoio ao Jornalismo faz parte da iniciativa internacional Defending Voices, desenvolvida em parceria com a Repórteres sem Fronteiras Alemanha (Reporter ohne Grenzen) e financiada pelo Ministério da Cooperação e Desenvolvimento alemão (Bundesministerium für wirtschaftliche Zusammenarbeit und Entwicklung - BMZ). A iniciativa também inclui um braço de atuação no México organizado pela ONG Propuesta Cívica, que implementará uma série de ações destinadas a reverter práticas e marcos regulatórios que minam a liberdade de imprensa no país, buscando ainda justiça e reparação de danos para jornalistas, e seus familiares, que tenham sido vítimas de violações dos direitos humanos.
Brasil e México são dois dos países mais perigosos para se praticar jornalismo no continente americano. O México ocupa a 143ª posição, enquanto o Brasil está em 107ª entre os 180 países listados no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa publicado em 2020 pela RSF.
Saiba mais sobre os veículos de comunicação do PAJor
Ação Comunitária Caranguejo Uçá
Desde 2002, a organização atua na Ilha de Deus, comunidade da grande Recife, reivindicando direitos básicos como acesso a educação e serviços de saúde. Comunicam suas demandas através de uma rádio comunitária, de um jornal exibido via internet e emissora pública, e ainda promovem ações culturais ligadas à cinema, teatro e música.
Agência especializada na temática racial no Brasil. Fundada em 2015, produz reportagens, colunas, análises, produções audiovisuais, ilustrações e ainda divulga eventos da comunidade afro-brasileira. Tem como objetivo construir um novo formato de gestão de processos, pessoas e recursos, através de um jornalismo que evidencie as desigualdades de raça no país.
Agência voltada à democratização e ao acesso à comunicação na Amazônia, a partir da valorização de grupos sociais que estão na invisibilidade ou de temas poucos explorados na mídia nacional. Desde 2013, produzem reportagens, artigos, infográficos, fotografias e vídeos/documentários sobre temas como proteção ambiental; mudanças climáticas; povos indígenas e tradicionais; conflitos agrários; política; economia; migrações; e defesa dos direitos humanos, das crianças, dos adolescentes e das mulheres.
Laboratório que trabalha paralelamente com jornalismo; formação; monitoramento e geração cidadã de dados. Nasceu em 2015 na favela da Maré e desenvolve reportagens, consultorias, relatórios analíticos, oficinas e eventos que levam em conta as potências e complexidades dos territórios populares e de seus moradores.
Jornal feito por e para moradores da Rocinha, favela carioca considerada a maior do Brasil. Criada em 2013, a publicação trabalha questões de identidade, representatividade, cultura e direitos humanos através da comunicação. Hoje, ampliou sua produção com narrativas em vídeo, sempre buscando combater visões estereotipadas do território.
Organização de Recife, fundada em 2015, que aposta na produção de conteúdo que dê destaque a temas de interesse público invisibilizados pela grande mídia. Aborda questões relacionadas aos direitos humanos, à democracia, a identidade, a gênero e ao direito à cidade. Suas pautas contemplam ainda grupos de territórios periféricos, ao falarem sobre a perda de direitos, a violência praticada por agentes públicos e ao acompanhar demandas como o direito à moradia e à livre manifestação.
Coletivo jornalístico formado por mulheres da periferia de São Paulo. Lançou-se como portal de notícias em 2014 e, hoje, atua nas mais diferentes plataformas de comunicação. Sua meta é construir narrativas mais humanas e contextualizadas, dialogando com a tríplice gênero, raça e classe social, tendo a periferia como território e suas moradoras como protagonistas.
Iniciativa que surgiu em 2017 a partir da necessidade de melhorar a comunicação e a circulação de notícias na região do Rio Negro. Mensalmente, a rede publica boletins de áudio feitos com a participação de comunicadores dos diversos territórios indígenas que fazem parte da região. Os boletins são, por muitas vezes, gravados nas línguas originais dos comunicadores e também traduzidos para o português.