Prêmio RSF para a Liberdade de Imprensa: os indicados de 2023

A 31ª edição do prêmio Repórteres sem Fronteiras (RSF) para a Liberdade de Imprensa acontecerá no dia 28 de novembro de 2023, em Bruxelas, tendo a jornalista Annette Gerlach como mestre de cerimônias. Vinte e um jornalistas, fotógrafos, meios de comunicação e associações de jornalistas de todo o mundo serão homenageados nas três categorias tradicionais: prêmio coragem, impacto e independência, bem como numa nova categoria, a do Prêmio de Fotografia Lucas Dolega-SAIF.

A cerimônia de entrega dos prêmios para a liberdade de imprensa da RSF será conduzida pela jornalista alemã Annette Gerlach, em Bruxelas, no dia 28 de novembro. Ela contará com a presença da diretora do Centro para as Liberdades Civis, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2022, Oleksandra Matviichuk e do comediante Daniel Morin, entre outros. 

Este ano, estão concorrendo 21 indicados de 18 países diferentes; treze jornalistas, cinco fotógrafos, dois meios de comunicação e uma associação de jornalistas. Eles são homenageados pela sua contribuição significativa para a defesa e promoção da liberdade de imprensa em todo o mundo.  

Os indicados competem em quatro categorias. Uma nova categoria foi adicionada aos tradicionais prêmios de coragem, impacto e independência: o Prêmio de Fotografia Lucas Dolega-SAIF. Este prêmio de fotojornalismo, criado em 2012 pela associação Lucas Dolega em homenagem ao jovem fotógrafo morto em 2011 e apoiado desde a sua criação pela Sociedade de Autores de Artes Visuais e Imagens Fixas (SAIF), está agora integrado ao prêmio RSF. 

Indicados ao Prêmio Coragem: 

Maryna Zolatava (Bielorrússia)  

A editora do site de notícias bielorrusso mais popular do país antes de ser fechado pelas autoridades, TUT.BY, pegou doze anos de prisão em março de 2023. Figura emblemática, sempre defendeu ferozmente a independência dos seus meios de comunicação e da imprensa, apesar das constantes pressões. “Culpar a mídia por todos os problemas é como ofender diante de um espelho”, escreveu ela um dia antes de sua condenação. Ela continua a escrever e enviar mensagens de esperança da prisão para lutar contra a desumanização do sistema prisional. 

Mohamed Ibrahim Radwan (Mohamed Oxygen) (Egito)

Após a sua libertação no início de 2019, ao fim de uma pena de cinco anos de prisão, Mohamed Radwan foi colocado sob vigilância e não foi autorizado a regressar ao trabalho. Mas quando os protestos eclodiram em setembro daquele ano, o blogueiro conhecido pelo pseudônimo Mohamed Oxygen, por causa de seu blog Egypt's Oxygen, cobriu os protestos assim mesmo. Seu compromisso com o direito à informação foi visto como um ato de desafio pelas autoridades. Preso novamente, foi condenado a cinco anos de prisão por “publicar notícias falsas”. No Egipto atual, o nome de Mohamed Oxygen é sinônimo de jornalismo corajoso. 

Niloofar Hamedi e Elaheh Mohammadi (Irã)

Duas jornalistas emblemáticas do movimento “Mulheres, Vida, Liberdade” no Irã, Niloofar Hamedi e Elaheh Mohammadi estão presas desde setembro de 2022 por ter estado entre as primeiras a cobrir a morte de Mahsa Amini. Correspondente do jornal Shargh, Niloofar Hamedi publicou uma foto dos parentes da jovem curda, logo após sua morte, no hospital de Teerã. Jornalista do diário Ham Mihan, Elaheh Mohammadi, por sua vez, cobriu o funeral de Mahsa Amini. Acusadas de “conspiração”, “propaganda” e “colaboração com o governo hostil dos Estados Unidos”, foram condenadas respectivamente a treze e doze anos de prisão, em 22 de outubro de 2023. 

Roberson Alphonse (Haiti)

Conhecido por sua cobertura de política e pandillas (gangues), o jornalista do diário Le Nouvelliste e diretor de informações da Radio Magik9, Roberson Alphonse, foi ferido durante uma tentativa de assassinato na região metropolitana de Porto Príncipe, em outubro de 2022. Mais de dez disparos foram feitos contra seu carro. Seus agressores não foram identificados.  Roberson Alphonse teve que fugir para os Estados Unidos. Apesar disso, voltou a trabalhar remotamente para o jornal e para a estação de rádio, num contexto de agravamento da crise no Haiti. Seis jornalistas foram mortos no país em 2022.

Benazir Shah (Paquistão)

Editora do Geo Fact Check, ela também trabalhou para a Newsweek Pakistan como gestora editorial e repórter sênior. Entre outras coisas, Benazir Shah assumiu a liderança de um movimento de resistência às campanhas de assédio cibernético contra jornalistas mulheres que demonstram demasiada independência em relação à linha oficial das autoridades civis e militares. Ela cobriu assuntos muito delicados na área política e sobretudo religiosa – como as campanhas de vacinação anti-poliomielite, abominadas pelos islamistas, ou o fenômeno das mulheres-bomba suicidas. 

Os indicados ao Prêmio Impacto:

Christo Grozev (Rússia)

Desafeto dos serviços secretos russos e do Kremlin, este jornalista investigativo búlgaro é responsável pelas reportagens sobre a Rússia para o Bellingcat. Em particular, revelou as identidades dos suspeitos dos envenenamentos de Sergei e Yulia Skripal e Alexeï Navalny, rivalizando com os serviços de inteligência e abrindo caminho para inquéritos judiciais e parlamentares. Ameaçado pelo FSB, a inteligência russa, precisou deixar seu país de residência, a Áustria, em fevereiro de 2023. As autoridades russas o incluíram na lista de procurados e ordenaram a sua prisão à revelia em abril de 2023. 

Kavita Devi (Índia)

Cofundadora do Khabar Lahariya, portal de notícias 100% feminino, composto por jornalistas de classes e castas denegridas na sociedade indiana (intocáveis, muçulmanas, aborígines, etc.), ela contribui para a divulgação de informações plurais e independentes dos círculos tradicionais de poder (gênero, casta, classe, etc.) e leva a sociedade indiana a uma maior representatividade e autonomia dos seus cidadãos.

Juan Pablo Barrientos (Colômbia)

Graças ao seu trabalho, a Colômbia descobriu no ano passado as identidades de 26 padres acusados de crimes sexuais. Autor do livro Dejad que los Niños Vengan a Mí (“Deixem vir a mim as criancinhas”), Juan Pablo Barrientos é vítima de perseguições e tentativas de censura há sete anos devido às suas investigações sobre este e outros assuntos relacionados com casos de corrupção. Suas reportagens permitem à população colombiana identificar criminosos e lutar contra a impunidade.

AmaBhungane (África do Sul)

Criado em 2010, o amaBhungane – “besouro do esterco” na língua zulu – é um meio de comunicação cujas investigações revelam histórias importantes de corrupção envolvendo políticos ou figuras do mundo empresarial na África do Sul. Em particular, revelou o escândalo do suborno de 10 milhões de dólares que a Federação Sul-Africana de Futebol alegadamente pagou para que o país fosse escolhido para acolher a Copa do Mundo de 2010. Sua última revelação diz respeito a um conflito de interesses entre a Moti, uma mineradora, e o governo do Presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, para promover os seus interesses em mineração.

Thanasis Koukakis (Grécia)

Jornalista da CNN Grécia e colaborador do Financial Times, Thanasis Koukakis foi um dos primeiros alvos do spyware Predator. Embora a justiça por esta vigilância arbitrária ainda não tenha sido feita e o próprio jornalista tenha sido submetido a um processo abusivo (SLAPP), ele investigou a sua própria vigilância. Personificação do rigor jornalístico e da busca pela verdade, Thanasis Koukakis lançou luz em âmbito internacional sobre a rede opaca da indústria de vigilância que está por trás de um dos maiores casos de ataques à liberdade de imprensa na União Europeia nos últimos anos.

Indicados ao Prêmio Independência: 

Ihsane El Kadi (Argélia)

Jornalista há 35 anos, fundador da Radio M e do site de notícias Maghreb Émergent, Ihsane El Kadi sempre defendeu o jornalismo independente e pluralista na Argélia. Vítima de um verdadeiro assédio judicial, foi condenado a seis meses de prisão em junho de 2022. Um artigo e um tweet lhe valeram uma nova prisão em dezembro do mesmo ano. Foi condenado seis meses depois, em recurso, a 5 anos de prisão, oficialmente por ter recebido fundos do exterior. Uma sentença injusta, uma das mais pesadas já proferidas contra um jornalista argelino, culminação de um processo kafkiano e de uma perseguição judicial. Seu recurso foi rejeitado em 12 de outubro pela Suprema Corte. 

Jose Rubén Zamora (Guatemala)

Fundador do jornal elPeriódico, que durante duas décadas denunciou a corrupção da classe política guatemalteca, José Rubén Zamora tornou-se alvo de ameaças e verdadeiros assédios judiciais. Em julho de 2022, foi preso por um caso forjado de lavagem de dinheiro e passou quase um ano em prisão preventiva. Seu jornal foi forçado a fechar em maio de 2023. Sua sentença de junho de 2023 a seis anos de prisão foi anulada em recurso em 13 de outubro, mas ele permaneceu detido até a realização de um novo julgamento.

L'Alternative (Togo)

As reportagens e revelações deste jornal investigativo, que é um dos poucos meios de comunicação independentes do país, expõem a corrupção e a má gestão no Togo. O L’Alternative também participou de importantes investigações colaborativas (incluindo a dos Panama Papers), que o levaram a ser arbitrariamente suspenso pela autoridade reguladora dos meios de comunicação, a Alta Autoridade do Audiovisual e da Comunicação. Para escapar a uma pesada pena de prisão, seu diretor editorial, Ferdinand Ayité, e o seu editor-chefe, Isidore Kouwonou, foram forçados a deixar o país em março de 2023.

Hong Kong Journalists Association

Organização sem fins lucrativos dedicada à defesa da liberdade de imprensa em Hong Kong desde 1968, a Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA) é uma das últimas organizações a defender abertamente os jornalistas do território desde a promulgação da lei de segurança nacional em 2020 e o início da forte repressão governamental. Ao longo da última década, a organização trabalhou de forma independente para apoiar jornalistas, apesar do crescente assédio por parte das autoridades.  

Evi Mariani (Indonésia)

Ex-diretora editorial do Jakarta Post, Evi Mariani fundou em maio de 2021 o Project Multatuli, uma nova forma de mídia que promove o jornalismo resolutamente centrado no interesse público e que destaca camadas da sociedade indonésia negligenciadas pelo discurso midiático dominante. Assim, carrega a esperança de um jornalismo verdadeiramente independente, um pilar vital para a consolidação da democracia indonésia.

Os indicados ao Prêmio de Fotografia “Lucas Dolega-SAIF”:

Edward Kaprov, por The Face of latest war, Ucrânia

Karine Pierre, por Take Me Home!, Paquistão

Adrienne Surprenant, por Un diamant dans une mer de sable, Chade

Robin Tutenges, por Chinland, Birmânia

Adrien Vautier, por A Batalha de Bakhmut, Ucrânia


O júri desta 31a edição é composto por jornalistas proeminentes ou defensores da liberdade de expressão do mundo todo: Rana Ayyub, jornalista indiana e colunista de opinião do Washington Post; Raphaëlle Bacqué, repórter francesa sênior do jornal Le Monde; Mazen Darwish, advogado sírio e presidente do Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão; Zaina Erhaim, jornalista síria e consultora de comunicação; Erick Kabendera, jornalista investigativo da Tanzânia; Hamid Mir, editor, colunista e escritor; Frederik Obermaier, jornalista investigativo do jornal Süddeutsche Zeitung de Munique; Mikhail Zygar, jornalista e editor-chefe fundador do único canal de televisão independente da Rússia, Dozhd. Este ano, por ocasião da integração da nova categoria Fotografia “Lucas Dolega-SAIF”, juntaram-se ao júri Véronique de Viguerie e Patrick Chauvel, dois conceituados repórteres de guerra. O trabalho do júri foi liderado pelo presidente da RSF, o jornalista e colunista francês Pierre Haski.

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