Pegasus: “uma ferramenta repugnante e sórdida apreciada por predadores da liberdade de imprensa”
Cerca de 200 jornalistas de 20 países diferentes foram alvo de vigilância por clientes da empresa israelense NSO, que comercializa o spyware Pegasus, de acordo com investigação divulgada por um consórcio internacional de imprensa. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) expressa seu repúdio e declara intenção de processar os responsáveis por essa vigilância em massa.
"É terrível! As revelações sobre o uso do sistema Pegasus geram repulsa e um sentimento de revolta, dada a extensão da vigilância e o número de jornalistas visados”, declarou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire. “Não, a NSO não contribui para 'a segurança e a estabilidade globais', como afirma a empresa. O Pegasus é uma ferramenta sórdida, desenvolvida por mercenários digitais e adorada por 'predadores da liberdade de imprensa' em sua repressão a jornalistas.”
“Em 2020, classificamos a NSO como “predadora digital da liberdade de imprensa” e contribuímos com a queixa apresentada pelo WhatsApp nos Estados Unidos contra a empresa israelense. Faremos tudo para garantir que a NSO seja condenada pelos crimes de que é acusada e pelas tragédias que provocou”, acrescentou Christophe Deloire.
“Os sistemas de Justiça dos países democráticos devem tratar deste assunto particularmente grave, apurar os fatos e punir os responsáveis. A RSF está analisando que medidas legais adotará em um ou mais países envolvidos. Convidamos os jornalistas e meios de comunicação visados a somarem-se à RSF na resposta judicial necessária após as revelações sobre o Pegasus.”
“As revelações sobre o sistema Pegasus são um apelo à mudança. Instamos os governos democráticos a estabelecerem imediatamente uma moratória sobre a venda dessas tecnologias de vigilância, até que salvaguardas efetivas sejam implementadas contra o seu uso liberticida.”
Pelo menos 180 jornalistas de 20 países, entre 2016 e junho de 2021, foram alvo de clientes do grampo israelense. Entre os clientes da NSO estão regimes autocráticos como Arábia Saudita, Argélia, Marrocos e Bahrein; mas também democracias como México e Índia. Todas as regiões do mundo estão envolvidas, da Hungria à Turquia e ao Azerbaijão, na Europa, até Togo e Ruanda, na África.
Já em 2017, a RSF havia alertado contra o uso do sistema Pegasus, sobretudo para vigiar jornalistas mexicanos. A organização, então, denunciou o emprego do sistema contra jornalistas da Arábia Saudita, da Índia, do Marrocos e do Azerbaijão.
A RSF parabeniza a qualidade das investigações feitas por veículos parceiros que produziram tais revelações sobre o Pegasus, e as informações fornecidas pelas organizações Forbidden Stories, Amnesty Security Lab e, anteriormente, pelo CitizenLab.