Na reta final da campanha eleitoral, conotação misógina e sexual se multiplica nos ataques a jornalistas

O principal fato da campanha eleitoral nesta semana de monitoramento foi o debate entre os dois candidatos à presidência promovido pelo Grupo Bandeirantes, TV Cultura, Folha de S.Paulo e UOL no domingo (16). Mas o que mais chamou a atenção nas postagens com conteúdos ofensivos a jornalistas foi o nível de violência das publicações voltadas a mulheres jornalistas, como detalharemos adiante. 

 

Do dia 10 ao 16 de outubro



Entre os dias 10 e 16 de outubro, foram 8.662 postagens agressivas contra a imprensa no Twitter. Neste período, foram identificadas 64 hahstags de ataque, com destaque para #Globolixo (4.049), #Globolixoderretendo (454), #CNNlixo (148), #Folhalixo (134) e #UOLlixo (108). Em razão do debate presidencial realizado no domingo, foi registrado um aumento de hashtags de ataque ao ex-presidente Lula compartilhadas de maneira articulada às hashtags de descredibilização da imprensa, como #ptnuncamais, #luladraotchutchucadopcc e #lulaseuladraoseulugarenaprisao. Também foram detectadas hashtags com nomes de programas jornalísticos e de entretenimento veiculados no domingo, mesmo dia do debate, associadas à #Globolixo, como #domingaocomhuck, #ospingosnosis, #domigoespetacular, #fantastico.

 



Alvos da semana

Os jornalistas mais agredidos da semana foram Miriam Leitão, a quem foram direcionadas 647 postagens ofensivas; Eliane Cantanhêde (391), Andréia Sadi (305), Ricardo Noblat (283), Milton Neves  (212), Rachel Sheherazade (204), Mônica Bergamo (136), Guilherme Fiuza (88), Reinaldo Azevedo (86) e Gerson Camarotti (74).

Como já destacamos, os ataques voltados a mulheres jornalistas diferem daqueles contra homens ao quase sempre apresentarem ofensas misóginas e de conotação sexual. Com a aproximação do dia da votação em 2o turno e com o aumento da temperatura na campanha eleitoral, as agressões contra as jornalistas também mudaram de tom. Muitas vezes, os ataques foram baseados na manipulação de fotos e imagens, para ridicularizar essas mulheres e descredibilizar seu trabalho. 

Encabeçando a lista dos jornalistas mais atacados desde o início da campanha eleitoral, Vera Magalhães virou alvo, esta semana, de postagens extremamente desrespeitosas. A apresentadora da TV Cultura e colunista do jornal O Globo virou objeto de um perfil exclusivo no Twitter, intitulado “Verba Magalhães”, criado especificamente para atacá-la e para apoiar o presidente Jair Bolsonaro. A imagem do perfil, por exemplo, é uma bruxa.

 





Os agressores da imprensa também não pouparam insinuações ofensivas à apresentadora quando, ao participar do debate presidencial na TV, ela apareceu visivelmente rouca. O post abaixo, publicado por um perfil que com frequência hostiliza jornalistas, já contava com mais de 36 mil curtidas antes mesmo do debate terminar. 

A RSF opta editorialmente por reproduzir tais conteúdos nesta página para mostrar o nível de hostilidade e a banalização da violência direcionada à imprensa no Brasil.

 

 

As postagens de caráter misógino e forte conteúdo sexual também foram direcionadas a outras mulheres jornalistas, como Eliane Cantanhêde, Miriam Leitão e Raquel Sheherazade. 

 

O perfil dos agressores

Os perfis que mais publicaram posts ofensivos contra a imprensa nesta semana foram @dr_andrada (104), @machadoands (83) e @joaocschmidt (65). Mas vale destacar outros perfis, que aparecem entre os 15 que mais publicaram conteúdos de ataque na semana anterior e nesta: @machadoands, @gomesflaviom, @paccolapetter e @njsc13. O perfil @machadoands também esteve presente na lista em outras três semanas de monitoramento do período eleitoral, comprovando a prioridade de sua atuação nas redes para intimidar jornalistas. 

 

O grafo mostra os usuários que mais utilizaram hashtags para agredir a imprensa na semana de 10 a 16 de outubro. As cores das aglomerações indicam “comunidades” de usuários que se formam com base nesses ataques compartilhados e articulados.

Sobre o projeto

Durante as eleições (16 de agosto a 30 de outubro), a Repórteres sem Fronteiras realiza um monitoramento sistemático das redes sociais, em particular do Twitter, para analisar e decifrar o alcance e os padrões por detrás dessa hostilidade crescente contra o jornalismo. Até o final do segundo turno, 120 jornalistas e comentaristas, além de perfis de autoridades públicas e candidatos às eleições, serão acompanhadas diariamente em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), centro de pesquisa de referência especializado em análise de redes sociais e tendências digitais. 

A RSF publica análises semanais com base nos levantamentos realizados, que estão compilados nesta página.

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