Gâmbia: ex-presidente deve ser julgado por assassinato de jornalista
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) pede que o ex-presidente Yahya Jammeh, atualmente exilado na Guiné Equatorial, seja extraditado de volta à Gâmbia para ser julgado pelo assassinato - em 2004 - de Deya Hydara, editor do jornal The Point e correspondente da RSF no país.
A RSF emitiu o pedido depois de um oficial do exército confessar à Comissão da Verdade, Reconciliação e Reparação da Gâmbia, no dia 22 de julho, que ele assassinou Hydara seguindo as ordens do presidente Jammeh.
Detido desde o dia 8 de fevereiro de 2017, duas semanas depois de Jammeh perder o cargo e partir para o exílio, Lt. Malick Jatta contou à Comissão como ele e dois outros militares - que, assim como ele, eram membros de uma unidade especial - dispararam contra Hydara no carro dele, na noite de 16 de dezembro de 2004.
“Nós abrimos fogo, eu, Alieu Jen e Sana Manjang”, disse Jatta, nomeando os outros dois militares.
“O assassinato do nosso correspondente, quinze anos atrás, causou muita aflição à nossa equipe”, afirmou o Secretário Geral da RSF Christophe Deloire. “Quinze anos depois, nós continuamos exigindo justiça. A investigação desse crime chocante deve ser retomada, dada a gravidade da acusação contra ele, Yahya Jammeh deve ser extraditado de volta da Guiné Equatorial. Os crimes contra jornalistas que ocorreram durante esses 22 anos que ele esteve no poder não devem ficar impunes.”
Aos 58 anos e pai de quatro filhos, Hydara foi co-fundador e editor do jornal The Point e autor de uma coluna bastante lida intitulada “Bom dia, senhor presidente”, em que ele comentava sobre a política da Gâmbia e seu governo. O jornalista também era correspondente da Agence France-Press (AFP) e da RSF na Gâmbia.
Os 22 anos de Jammeh como presidente foram marcados por constantes perseguições à imprensa. Assim como no assassinato de Hydara, também foi alegado que o ex-presidente teve envolvimento na morte de dois outros jornalistas, Chief Ebrima Manneh e Omar Barrowm, além de inúmeros casos de censura e prisão de comunicadores.
Sob Adama Barrow, quem substituiu Jammeh como presidente em janeiro de 2017, a Gâmbia subiu 30 posições em um único ano na Classificação Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF, que agora ocupa a 92° posição entre 180 países.