Eleições no Brasil: Reações a decisões do TSE contra desinformação fomentam ataques à imprensa

Na semana entre os dias 17 e 23 de outubro, o monitoramento realizado em parceria pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Labic/UFES registrou ao menos 7.336 postagens com conteúdos ofensivos à imprensa no Twitter. O destaque da semana foram as reações às decisões do Tribunal Superior Eleitoral reforçando o combate à desinformação nas eleições e o controle de irregularidades eleitorais. Jornalistas que cobriram as decisões e a nova resolução do Tribunal sobre o tema, divergindo do discurso adotado por uma das campanhas presidenciais de que a corte eleitoral estaria censurando a liberdade de expressão, viraram alvos.

Uma das decisões que motivou ataques à imprensa nas redes sociais foi tomada no dia 17, quando o TSE concedeu direito de resposta à campanha Lula sobre comentários ofensivos ou distorcidos veiculados pela Jovem Pan. A emissora de rádio e seu canal no YouTube, que têm uma linha editorial de apoio ao presidente Bolsonaro e reúne entre seus comentaristas alguns dos mais importantes influenciadores digitais bolsonaristas ou de extrema-direita, passou então a fazer uma campanha alegando que estaria sendo vítima de censura pelo Tribunal. A hashtag #censuranao passou a ter bastante repercussão nas redes.



Curiosamente, essa hashtag que denunciaria uma eventual censura à imprensa aparece de maneira relevante associada à hashtag #globolixoepetista. Ou seja, postagens apoiando os comentaristas da Jovem Pan ao mesmo tempo atacavam jornalistas e analistas da Rede Globo que apresentaram outra avaliação sobre decisões do TSE para combater a desinformação.

No grafo abaixo, observamos as interações que geraram essa situação de hostilidade particular. Com base na associação entre a palavra “censura” e termos ou hashtags ofensivas à imprensa, o grafo mostra os perfis que mais influenciaram essa correlação. As publicações que mais repercutiram foram feitas também por um jornalista, Rodrigo Constantino, que ataca a Rede Globo e seus comentaristas por conta de opiniões divergentes daquelas veiculadas na Jovem Pan. 

A situação explicita o modus operandi de uma parte de profissionais de imprensa ou influenciadores digitais alinhados ao presidente Bolsonaro. Alguns desses jornalistas podem ser alvos eventuais de hostilidade ou ataques de usuários das redes, mas obtêm muito mais alcance em seus posicionamentos por postarem frequentemente mensagens agressivas contra outros jornalistas ou fomentarem que outras pessoas utilizem os comentários de suas publicações para atacar a imprensa. 

Assim, desde o início do período eleitoral, observamos semanalmente que Rodrigo Constantino, por exemplo, é mencionado frequentemente em postagens que atacam outros jornalistas, sendo o seu perfil utilizado como um catalisador para essas agressões. Ao citá-lo, o usuário ganha visibilidade em seu ataque e reforça o chamado para outros também visarem jornalistas e veículos de linha editoral diversa. Estratégia semelhante pode ser identificada deste o início da campanha nos perfis dos jornalistas Milton Neves e Guilherme Fiuza no Twitter.

 

A publicação abaixo, por exemplo, teve grande engajamento, já tendo alcançado mais de 58 mil curtidas, 13 mil “retuítes” e mais de 350 comentários que, em geral, reforçam e intensificam o ataque à imprensa da postagem de Rodrigo Constantino. É justamente a criação desses “espaços ou comunidades de ataque” com base em publicações de jornalistas de grande influência que gera esse “efeito catalisador”. O post do influenciador bolsonarista Leandro Ruschel (na sequência), teve um alcance de 862.343 perfis, mais de 7.300 curtidas e de 1.650 “retuítes”, mostrando o importante papel que perfis ligados ao presidente Bolsonaro têm na articulação e na reprodução de ataques à imprensa.

 

 



 

Entre os dias 17 e 23 de outubro, também foram registradas 67 hashtags de ataque à imprensa. A hashtag usada com maior frequência foi #Globolixo, com 3.472 citações. Outras frequentes foram #CNNlixo (194) ,#UOLlixo (171) e #Folhalixo (118).

Com a proximidade do segundo turno das eleições, no próximo domingo (30), as diversas hashtags de ataque à imprensa se relacionaram de maneira mais forte a hashtags de campanha, particularmente de ataques ao ex-presidente Lula e ao PT, assim como as de apoio ao presidente Bolsonaro.

Alvos da semana

Os jornalistas que mais receberam ataques na semana foram: Miriam Leitão (750); Andréia Sadi (321); Ricardo Noblat (236); Vera Magalhães (218); Eliane Cantanhêde (206); Reinaldo Azevedo (111); Mônica Bergamo (95); Octavio Guedes (72); Milton Neves (66); e Gerson Camarotti (58).

Os posts abaixo exemplificam ataques aos jornalistas Míriam Leitão, Andréia Sadi e Ricardo Noblat dessa semana. 

 





Sobre o projeto

Durante as eleições (16 de agosto a 30 de outubro), a Repórteres sem Fronteiras realiza um monitoramento sistemático das redes sociais, em particular do Twitter, para analisar e decifrar o alcance e os padrões por detrás dessa hostilidade crescente contra o jornalismo. Até o final do segundo turno, 120 jornalistas e comentaristas, além de perfis de autoridades públicas e candidatos às eleições, serão acompanhadas diariamente em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), centro de pesquisa de referência especializado em análise de redes sociais e tendências digitais. 

A RSF publica análises semanais com base nos levantamentos realizados, que estão compilados nesta página.

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