Eleições no Brasil: Cobertura da nova presidência do TSE concentra ataques a jornalistas

O início da campanha eleitoral foi marcado por um aumento no engajamento nos perfis dos jornalistas nas redes sociais e, junto com ele, de ataques contra aqueles que cobrem a agenda política e eleitoral. A RSF registrou 66.809 posts com termos ofensivos à imprensa no período, e 119 hashtags agressivas. As duas mais usadas foram #globolixo e #cnnlixo. Em função das análises que realizou da posse do ministro Alexandre de Moraes no TSE, Miriam Leitão foi a jornalista que recebeu o maior número de postagens ofensivas na semana: 443, trazendo termos como “canalha”, “leitoa”, “vergonha”, “comunista”, "ridícula", “velha” e “feia”.

 

O início da campanha eleitoral oficial no Brasil foi marcado por um aumento significativo no engajamento nos perfis dos 120 jornalistas monitorados pelo projeto. Este crescimento  começou no dia 16, data oficial de início da campanha eleitoral e também da posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e alcançou seu pico no dia seguinte, saltando de cerca de 70 mil postagens no início da semana para mais de 109 mil no dia 17. 

Junto com a maior interação nos perfis de jornalistas, veio um crescimento nos ataques, sobretudo contra aqueles que cobrem a agenda política e eleitoral. A Repórteres sem Fronteiras (RSF) registrou 66.809 posts com termos ofensivos à imprensa no período, e 119 hashtags agressivas. As duas mais usadas foram #globolixo e #cnnlixo, citadas, respectivamente, 6.519 e 972 vezes. 

Alvos da semana

O monitoramento revelou que, na primeira semana de campanha, os perfis de jornalistas que obtiveram o maior número de comentários contendo termos pejorativos foram: Miriam Leitão (443 citações), Mônica Bergamo (331), Ricardo Noblat (139) e Vera Magalhães (101) e Xico Sá (74). 

 

 

Em função da cobertura e das análises que realizou, nas redes sociais, da posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE, a jornalista Miriam Leitão foi a que recebeu o maior número de postagens ofensivas na semana. A comentarista do Grupo Globo foi objeto de postagens que utilizaram termos como “militante”, “canalha”, “leitoa”, “vergonha”, “comunista”, "ridícula", “velha” e “feia”.

Miriam Leitão é uma das jornalistas frequentemente atacada por setores conservadores, alvo de termos misóginos e que fazem referência à ditadura militar, período em que ela foi presa e torturada pelo regime. “Amélia”, por exemplo, que apareceu esta semana em 265 posts, era o codinome usado por Miriam Leitão nas ações de enfrentamento à ditadura que realizou. Muitas postagens direcionadas à jornalista incluem o emoji de uma cobra, em referência a sessões de tortura pelas quais Miriam Leitão passou nas quais o animal foi usado. 

 

O uso da vida privada de jornalistas para intimidá-los e silenciá-los ganha uma nova dimensão nas manifestações de violência online, às vezes ocorrendo às centenas em poucos dias. Esse patamar de ataque pode ter um impacto grande na vida e na saúde dos/as comunicadores/as, afetando profundamente sua saúde mental e vida familiar e levando esses trabalhadores à autocensura.

No mesmo período, os perfis que mais reproduziram insultos contra a imprensa foram @arrcanjjo, @vithoriaregiad1 e @simio_pensador. Em comum, os três são apoiadores do presidente Bolsonaro em suas postagens. O primeiro usa o “Tiozão Bolsonarista#22” e o segundo tem “Bolsonaro até 2026” escrito na descrição da conta.

O papel das autoridades públicas

Postagens feitas por personalidades e autoridades públicas ganham alcance e repercussão significativas a partir do engajamento de seus apoiadores. Nesta semana, vale destacar a postagem do presidente Jair Bolsonaro, estigmatizando a imprensa em geral, que alcançou 10.347.220 de perfis.

 



 

Outro episódio na semana foi protagonizado pelo ex-secretário especial de Cultura, Mário Frias, candidato a deputado federal por São Paulo, cuja postagem teve alcance de 999.419 de pessoas. No post, Frias repercute o que parece ser uma tática eleitoral: a transformação da imprensa em inimiga interna do Bolsonarismo, algo que distorce, mente, se opõe à realidade e à verdade.

 



 

O monitoramento do período também revelou diversas postagens de figuras públicas relacionando termos como “facção”, “PT” e “PCC” a palavras como "mídia", “matéria” e “sujeira”. A prática é frequentemente adotada nas redes para construir uma narrativa sugestiva de uma relação direta entre o Partido dos Trabalhadores e a facção criminosa conhecida como PCC, da qual a imprensa não falaria.

A análise dos ataques nessa primeira semana de campanha eleitoral demonstra que eles não são feitos de maneira isolada ou aleatória, mas seguem o caminho aberto por autoridades ou candidatos com grande influência nas redes, que alcançam milhões de outras pessoas que, por sua vez, se sentem legitimadas a continuar as agressões.

Sobre o projeto

Durante as eleições (16 de agosto a 30 de outubro), a Repórteres sem Fronteiras (RSF) realiza um monitoramento sistemático das redes sociais, em particular do Twitter, para analisar e decifrar o alcance e os padrões por detrás dessa hostilidade crescente contra o jornalismo. Até o final do segundo turno, 120 jornalistas e comentaristas, além de perfis de autoridades públicas e candidatos às eleições, serão acompanhadas diariamente em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), centro de pesquisa de referência especializado em análise de redes sociais e tendências digitais. 

A RSF publica análises semanais com base nos levantamentos realizados, que serão compilados nesta página.

 

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