Eleições no Brasil: Ataques ao Grupo Globo lideram agressões contra a imprensa em mais uma semana
Os ataques direcionados contra o Grupo Globo seguem insuflando e mobilizando o ódio contra jornalistas e a imprensa nas redes. Também ganhou destaque a repercussão da agressão física sofrida pela jornalista Vera Magalhães no debate entre candidatos ao governo de São Paulo na TV Cultura, em 13 de setembro. O episódio fez com que a jornalista, que também é colunista do jornal O Globo, continuasse no topo da lista entre os profissionais mais atacados.
Na quinta semana de monitoramento, a Repórteres sem Fronteiras e o LABIC/UFES levantaram 21.216 postagens com termos ofensivos e insultos direcionados à imprensa em geral no contexto das eleições. Os veículos do Grupo Globo e seus jornalistas aparecem novamente em destaque, concentrando mais da metade dos ataques registrados. A hashtags #globolixo e #globolixoderretendo foram utilizadas respectivamente em 12.852 e 2.462 postagens durante o período.
Desde o início do levantamento (16 de agosto), das 280 hashtags utilizadas para descredibilizar a imprensa identificadas pelo projeto, 124 (44%) foram direcionadas a veículos do Grupo Globo e seus jornalistas. No total, #globolixo foi utilizada 414.824; #globolixoderretendo, 18.203; e #globosta, 1.128.
Entre os cinco profissionais de imprensa mais atacados durante a campanha eleitoral, todos trabalham em algum veículo do Grupo Globo: Vera Magalhães, Miriam Leitão, Andréia Sadi, William Bonner e Eliane Cantanhêde. Os dados apontam um padrão na deslegitimação desses profissionais e veículos do grupo, contribuindo com uma narrativa de questionamento do trabalho jornalístico em geral.
O grafo abaixo mostra as hashtags de ataque à imprensa mais utilizadas na semana de 12 a 18 de setembro.
Os ataques direcionados contra o Grupo Globo esta semana também foram alavancados em razão do período de renovação das outorgas de radiodifusão da emissora junto ao governo federal, que deve ser realizado a cada 15 anos. Ao longo do mandato, o presidente Jair Bolsonaro insinuou em diversas ocasiões que poderia não renovar a concessão do Grupo Globo ao tecer críticas contra a emissora.
O candidato a deputado federal e ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Mário Frias, compartilhou um vídeo antigo do presidente, aos gritos, chamando a Globo e seus jornalistas de “patifes” e “canalhas”. Na postagem, o presidente Jair Bolsonaro ameaça cortar recursos de publicidade oficial para a empresa, pede para o veículo parar “de trair o Brasil” e diz que está “no limite” com a TV Globo. A postagem alcançou 991.762 perfis.
Alvos da semana
Os jornalistas que mais receberam agressões na semana de 12 a 18 de setembro foram Vera Magalhães (1.429); Miriam Leitão (522); Mônica Bergamo (285); Andréia Sadi (256); André Trigueiro (101); Eliane Cantanhêde (74); e Ricardo Noblat (50).
A jornalista Vera Magalhães seguiu liderando a lista em função das repercussões nas redes da agressão que sofreu presencialmente por parte do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos/SP), em seu local de trabalho. O caso repercutiu amplamente na mídia e nas redes sociais nos dias que se seguiram e fez com que a jornalista fosse mais uma vez foco de agressões online.
O próprio parlamentar seguiu incentivando a violência online. Em uma postagem que alcançou 4.525.567 de usuários no Twitter, Douglas Garcia afirmou que a agressão registrada em vídeo não teria ocorrido. Antes mesmo do debate, em outra postagem, o parlamentar demonstrava que tinha a intenção de intimidar a jornalista, deixando evidente que os ataques são uma estratégia política para ganhar repercussão nas redes junto à sua base eleitoral.
Outras hashtags que tiveram destaque na semana, para além das que mencionam diretamente o Grupo Globo citadas acima, foram #veramagalhaesvergonhadojornalismo (876); #cnnlixo (692); #veravergonhadojornalismo (569); #folhalixo (401); #UOLlixo (297); #midialixo (195) e #imprensalixo (193).
As 15 principais contas que utilizaram hashtags de ataques a jornalistas e veículos de imprensa na semana de 12 a 18 de setembro foram: @eap_bill, @valentina_soll, @vithoriaregiad1, @xeulebot, @chebert11, @juliounb, @luidarlos, @wrodrigues_app4, @elzorro32333230, @mateusl07113345, @antonioalvespho, @pedrolluzz, @pinoquio_bonner, @anderson_a_mach e joao_jb22.
Em comum, 13 dessas 15 contas são apoiadoras explícitas do presidente Jair Bolsonaro, e oito são perfis anônimos ou não claramente identificados. Alguns usuários destacam-se por ataques constantes, como as contas @antonioalvespho, @pinoquio_bonner e @anderson_a_mach, que também estavam na lista de principais agressores na semana anterior. Os usuários @vithoriaregiad1, @elzorro32333230 e @mateusl07113345 aparecem na lista de principais agressores pela terceira semana consecutiva.
O grafo abaixo apresenta os jornalistas e veículos mais citados na semana de 12 a 18 de setembro com termos ofensivos por meio de menções e respostas no Twitter. Os veículos mais mencionados foram O Globo Política, GloboNews, jornal O Globo, UOL Notícias e Folha.
Sobre o projeto
Durante as eleições (16 de agosto a 30 de outubro), a Repórteres sem Fronteiras (RSF) realiza um monitoramento sistemático das redes sociais, em particular do Twitter, para analisar e decifrar o alcance e os padrões por detrás dessa hostilidade crescente contra o jornalismo. Até o final do segundo turno, 120 jornalistas e comentaristas, além de perfis de autoridades públicas e candidatos às eleições, serão acompanhadas diariamente em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), centro de pesquisa de referência especializado em análise de redes sociais e tendências digitais.
A RSF publica análises semanais com base nos levantamentos realizados, que serão compilados nesta página.