Eleições na Venezuela: RSF apela às autoridades para garantirem a segurança e o livre exercício dos jornalistas durante as manifestações
O jornalista Jesus Romero foi baleado e ferido em Maracay e três repórteres foram presos durante protestos contra os resultados das eleições presidenciais. As manifestações seguiram-se ao anúncio da reeleição de Nicolás Maduro durante uma votação também marcada por violações da liberdade de imprensa.
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) acompanha com preocupação a situação na Venezuela, onde jornalistas têm sido atacados ou detidos durante as diversas manifestações que ocorrem no país, desde o anúncio da vitória do Presidente Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho, sem que os resultados detalhados da votação tenham sido publicados.
No dia 29 de julho, ao cobrir uma manifestação em Maracay, no norte do estado de Aragua, o jornalista Jesus Romero, do site de notícias Codigo Urbe, levou dois tiros, um no abdômen e outro na perna, e precisou de cirurgia. Até o momento, o autor dos disparos não foi identificado.
Vários jornalistas estão entre as centenas de pessoas presas pela polícia durante os protestos. Em 29 de julho, na cidade de Barinas, a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) prendeu o cinegrafista do site de notícias Noticia Digital, Yousner Alvarado, enquanto ele se dirigia de moto a uma manifestação para cobri-la. Sem poder entrar em contato com seu advogado ou familiares, teve que se apresentar a uma audiência virtual em Caracas, na madrugada de 30 de julho, com um advogado designado pelo tribunal. Acusado de terrorismo, ele ainda é mantido incomunicável.
No dia 30 de julho, o jornalista Joaquim de Ponte, que havia coberto protestos contra os resultados eleitorais no dia anterior, também foi preso, em San Juan de los Morros, estado de Guarico, quando voltava para casa. Acusado de “incitamento ao ódio e ao terrorismo”, esteve detido num destacamento do GNB até à noite, tendo depois sido libertado devido ao seu estado de saúde.
O cinegrafista da VPI-TV, Paul Leon, foi preso pela Polícia Nacional Bolivariana em Valera, estado de Trujillo, junto com vários manifestantes, enquanto cobria o protesto. Ele permanece detido em uma delegacia de polícia e não pôde ver seu advogado ou parentes. A RSF pede que Yousner Alvarado e Paul Leon tenham acesso imediato aos seus advogados e familiares e que sejam libertados.
Também cobrindo uma manifestação na cidade de Barcelona, no estado de Anzoategui (nordeste), o jornalista do site de notícias Noticias Neveri, Gabriel Rodríguez, viu seu carro estacionado incendiado pelos manifestantes. Até à data, nenhum jornalista perdeu a vida durante esses protestos, durante os quais doze pessoas morreram em diferentes regiões do país.
“Num momento em que o trabalho da imprensa nas mobilizações sociais que eclodiram em todo o país é crucial, aumentam os ataques aos direitos dos jornalistas. As autoridades devem abrir investigações sobre esses graves obstáculos e garantir a proteção dos profissionais dos meios de comunicação, para que possam cobrir o que se passa nas ruas e nas instituições do país. É igualmente fundamental que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) permita aos jornalistas o acesso às atas eleitorais, detalhadas urna a urna, conforme prevê a lei venezuelana.
Uma eleição marcada por violações da liberdade de imprensa
Pelo menos 41 violações da liberdade de imprensa foram registradas pelo parceiro local da RSF, o Instituto Imprensa e Sociedade (IPYS Venezuela), durante as eleições presidenciais de 28 de julho. A organização registou 27 restrições de acesso à informação – jornalistas foram impedidos pela CNE de ter acesso às seções eleitorais –, 12 ataques físicos ou verbais e um caso de detenção: o jornalista espanhol Cake Minuesa, do site de notícias OkDiario, foi detido em 29 de julho e deportado para a Espanha. Essas violações foram cometidas principalmente por militares responsáveis pela proteção dos locais de votação, mas também por oficiais da Guarda Nacional Bolivariana, da Direção Geral de Contraespionagem Militar, apoiadores do Presidente Maduro e cidadãos não identificados.
A RSF continuará monitorando casos de ataques a jornalistas e obstrução ao trabalho da imprensa na Venezuela, como parte de uma missão internacional de observação eleitoral realizada com diversas organizações parceiras.