Eleições municipais no Brasil: mais de 37.000 ataques online contra jornalistas registrados em um mês

Durante o período eleitoral de 2024, a Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor), da qual a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) faz parte, tem monitorado ativamente as redes sociais para rastrear ataques a jornalistas e analisar padrões de hostilidade contra a imprensa no espaço digital. No primeiro mês dessa investigação, a CDJor identificou mais de 37.000 postagens ofensivas e encontrou uma conexão preocupante entre esses ataques e a crescente polarização política no Brasil.

Depois de apenas um mês de monitoramento das redes sociais X (antigo Twitter) e Instagram, a CDJor documentou mais de 37.000 postagens ofensivas e depreciativas contra a imprensa brasileira. A iniciativa da CDJor busca analisar o conteúdo das mídias sociais antes e depois das eleições municipais do Brasil, marcadas para 6 e 27 de outubro. Em colaboração com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a CDJor vem monitorando cerca de 200 contas pertencentes a jornalistas, veículos de comunicação e candidatos a prefeito desde 15 de agosto. Os ataques variam de críticas vagas à mídia a ataques diretos a jornalistas e veículos individuais. Palavras como “lixo”, “ativista”, “vergonha” e “podre” são usadas com frequência para minar a credibilidade desses profissionais.

“O volume alarmante dessas postagens ofensivas confirma que a prática de atacar o jornalismo se tornou profundamente arraigada no Brasil, especialmente durante os períodos de votação, e é alimentada pela polarização política. É fundamental que tanto as autoridades quanto o público levem essa questão a sério, pois ela representa uma ameaça real ao direito dos cidadãos à informação durante as eleições. Os jornalistas que são repetidamente alvo de ataques online podem acabar sendo silenciados, o que seria uma perda para a democracia. As plataformas digitais precisam urgentemente lidar com essa retórica violenta e garantir um ambiente mais saudável para o debate público.

Artur Romeu
Diretor do Escritório da RSF para a América Latina

O primeiro mês de monitoramento da campanha eleitoral revelou as seguintes tendências:

  • Muitos dos agressores online associam o trabalho jornalístico a uma suposta agenda ideológica de esquerda, reforçando uma narrativa que desacredita a imparcialidade da mídia. As postagens demonstram que aqueles que atacam a imprensa também tendem a atacar figuras políticas importantes, especialmente o Presidente Lula.
  • Os agressores mais frequentes geralmente mencionam o ex-presidente Jair Bolsonaro em seus perfis e criticam a “ditadura do STF”, referindo-se às decisões do Supremo Tribunal Federal do Brasil contra os apoiadores de Bolsonaro. Esses usuários tendem a se alinhar com o espectro político de extrema direita.
  • Os maiores veículos de mídia do Brasil são alvos frequentes, especialmente redes de televisão e jornais de propriedade do Grupo Globo.
  • Embora seja raro um candidato político atacar um jornalista diretamente, os perfis de candidatos de vários partidos diferentes frequentemente incluem retórica destinada a minar a credibilidade da mídia em geral. Isso é tanto uma estratégia de autopromoção quanto uma defesa preventiva contra as críticas dos jornalistas às suas políticas e propostas.
  • Depois que a plataforma de mídia social X foi bloqueada no Brasil em 31 de agosto, houve uma queda significativa nos ataques online. Cerca de 90% dos ataques documentados ocorreram nessa plataforma, destacando seu papel como um ambiente especialmente hostil para o jornalismo e a liberdade de imprensa sob a propriedade de Elon Musk.
  • Fora da mídia social, a CDJor registrou pelo menos sete ataques físicos ou verbais contra jornalistas nas nove principais cidades monitoradas. Esses incidentes ocorreram principalmente quando os candidatos se ofenderam com perguntas desafiadoras durante comícios políticos ou entrevistas.

Sobre a Coalizão

Coalizão em Defesa do Jornalismo é uma parceria de 11 organizações da sociedade civil que defendem a liberdade de imprensa. Suas principais áreas de foco incluem a proteção e a segurança dos jornalistas, a sustentabilidade do jornalismo e a integridade das informações.

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