Brasil. Jornalistas "fact-checkers" atacados nas redes sociais
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) se alarma com a escalada dos ataques online contra os jornalistas que verificam as informações nas redes sociais. No Brasil, na véspera das eleições gerais, esses jornalistas investigativos 2.0 são os novos alvos dos trolls.
Eles investigam as informações online, reinserem-nas em seus contextos, rastreiam os rumores virais... Os fact-checkers, os jornalistas que verificam as declarações políticas, analisam as fotos montadas e outras informações falsas que circulam em grande escala nas redes sociais, tornaram-se alvos de ataques crescentes à medida que se aproximam as eleições gerais no Brasil. Insultos, ameaças, campanhas de desinformação... A agência brasileira de verificação de fatos, Lupa, recebeu, assim, desde o outono passado, milhares de tuites, incluindo várias ameaças de morte. Na origem desses conluios online: o anúncio, em maio passado, de uma parceria entre as agências de verificação de fatos brasileiras, entre as quais a Lupa, e o Facebook, tendo em vista as eleições de 7 e 28 de outubro.
"O assédio online é uma ameaça crescente contra a liberdade de imprensa, lamentou Elodie Vialle, Responsável pelo Escritório de Jornalismo e Tecnologia da RSF. Se os fact-checkers se tornaram alvos, é para intimidá-los e fazer com que seja calada qualquer contradição. Contudo, seu trabalho de verificação e de recontextualização da informação tornou-se indispensável para a preservação da integridade do debate público, que acontece, hoje em dia, essencialmente online."
Quando um conteúdo difundido no Facebook é marcado como "falso" pelos fact-checkers, seu alcance - ou seja, o número de pessoas que acessam a publicação - diminui em 80%. Uma forma de "censura" de numerosos grupos políticos que não hesitam em difundir em grande escala campanhas com o objetivo de desacreditar o trabalho dos fact-checkers. Um documento em PDF de 299 páginas, apresentando as fichas de 40 jornalistas brasileiros, entre os quais a equipe do Lupa, foi assim amplamente difundido por WhatsApp com o objetivo de destacar suas orientações políticas.
"Cada vez mais fact-checkers se tornam alvos, preocupa-se Alexios Mantzarlis, coordenador da rede internacional de fact-checking da think-tank sobre jornalismo, Poynter. Simplesmente porque, antes, o trabalho deles era menos conhecido." Nas Filipinas, os jornalistas especializados em fact-checking da ONG Vera Files também se tornaram alvos de ameaças, de insultos ou de campanhas de desinformação com o fim de prejudicá-los.
Na Itália, o fact-checker David Puente foi ameaçado de morte online depois de ter descoberto a existência de uma conta falsa de Facebook que se fazia passar pelo jornalista Roberto Saviano, conhecido por suas investigações sobre as máfias. Após suas revelações, um "relatório" foi divulgado para prejudicar David Puente, acusando-o de... pedofilia. Na França, o jornalista Samuel Laurent, responsável pela coluna de fact-checking Les Décodeurs do jornal Le Monde, acaba de anunciar "a suspensão" de sua conta no Twitter, devido ao assédio sistemático que sofria.
Em sua investigação publicada no fim de julho "Assédio online: quando os trolls atacam", a RSF listou 25 recomendações, como o desenvolvimento de treinamentos para jornalistas, o reforço da responsabilidade das plataformas com relação aos conteúdos que são publicados online por meio de seus serviços, ou ainda os mecanismos de alerta.