Brasil: a investigação do assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira chega ao fim — a RSF cobra ações mais eficazes para proteger jornalistas na Amazônia
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) saúda a conclusão do inquérito da Polícia Federal sobre os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, que resultou no indiciamento do suposto mandante do crime, Rubens Villar — conhecido como "Colômbia" — junto com outros oito suspeitos. Embora a acusação seja um passo importante, a RSF ressalta que a impunidade só terminará quando todos os responsáveis forem plenamente julgados.
A conclusão do inquérito sobre os assassinatos brutais de Dom Phillips e Bruno Pereira, com o indiciamento de 9 pessoas, incluindo do suspeito de ser o mandante do crime, representa um avanço importante. A Polícia Federal concluiu que os assassinatos foram motivados como uma retaliação às atividades fiscalizatórias de Bruno Pereira, defensor dos direitos indígenas e da preservação ambiental no Vale do Javari. Segundo o relatório final, Rubens Villar, chefe de uma operação ilegal de pesca e extração de madeira, forneceu munição aos assassinos e financiou despesas legais de um dos primeiros suspeitos detidos.
Dom Phillips, jornalista experiente que colaborava com The Guardian, The New York Times e The Washington Post, estava na Amazônia para coletar entrevistas para um livro sobre a região. Ele foi acompanhado por Bruno Pereira, que estava de licença da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), após ter sido exonerado do cargo de coordenador-geral de Indígenas Isolados, e estava trabalhando com União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA).
A RSF e seus parceiros ressaltam constantemente a importância de não tratar a morte de Dom Phillips como uma simples consequência colateral da violência dirigida a Bruno Pereira. Ambos foram vítimas de uma rede criminosa que buscava silenciar quem denuncia a destruição da floresta e as atividades ilegais que prevalecem na região.
"O indiciamento do mandante do crime é um marco importante, mas é apenas o começo. A justiça para Dom Phillips e Bruno Pereira só será alcançada quando todos os envolvidos forem de fato responsabilizados. O assassinato de Dom não pode ser tratado como dano colateral. Ambos foram deliberadamente alvos de uma rede criminosa que opera com impunidade na Amazônia. Medidas imediatas e eficazes são necessárias para proteger os jornalistas da região e evitar novas tragédias. Pedimos às autoridades que tomem medidas concretas para fortalecer a proteção aos jornalistas e defensores ambientais, melhorar as práticas investigativas para crimes contra a imprensa e garantir um ambiente mais seguro para o trabalho jornalístico na Amazônia."
Artur Romeu, Diretor do Escritório para América Latina da RSF.
O compromisso da RSF com a busca por justiça
Desde o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira em junho de 2022, a RSF tem exigido justiça e medidas protetivas mais fortes. Em colaboração com outros grupos da sociedade civil, a RSF recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o que resultou na criação de um grupo de trabalho conjunto com o governo brasileiro. Formado em dezembro de 2023, esse grupo implementa e supervisiona medidas eficazes para combater a impunidade e garantir a segurança dos jornalistas na região.
Jornalismo em chamas
Apesar desses esforços, o progresso é lento. A RSF registrou 85 ataques a jornalistas na Amazônia entre junho de 2022, quando Dom Phillips e Bruno Pereira foram assassinados, e junho de 2024. Esses ataques incluem ameaças de morte, violência física, agressões armadas e assédio judicial. Até que as medidas de proteção prometidas sejam plenamente implementadas, muitos jornalistas e defensores ambientais continuarão em risco.
A grave situação na Amazônia é detalhada no relatório da RSF, "Amazônia: Jornalismo em Chamas", publicado em setembro de 2023. O relatório lança luz sobre a crescente violência enfrentada por jornalistas que reportam sobre crimes ambientais e sobre a resposta insuficiente das autoridades brasileiras.
O compromisso inabalável da RSF com a liberdade de imprensa significa que continuará a trabalhar com parceiros nacionais e internacionais para garantir que os assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira resultem em mudanças sistêmicas, assegurando que crimes como esses nunca fiquem impunes.