Argentina: fechamento da principal agência de notícias pública é duro golpe para o direito à informação
A redação da agência de notícias Télam amanheceu lacrada, cercada pela polícia e o site fora do ar. Para a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a decisão do recém-eleito presidente Javier Milei de fechar a principal agência de notícias pública do país representa um duro golpe para o direito à informação e é um sinal de alerta para o pluralismo.
Em poucos dias, o presidente argentino, Javier Milei, decidiu fechar a agência pública Télam, que foi criada há 78 anos, sob o pretexto de que se tratava de uma “agência de propaganda kirchnerista”, em referência ao movimento político associado aos ex-presidentes Néstor Kirchner (2003 e 2007) e Cristina Kirchner (2007 e 2015).
Na segunda-feira, 4 de março, apenas três dias após o anúncio feito durante a abertura das sessões do Congresso Nacional, o acesso à redação da agência em Buenos Aires foi bloqueado por uma grande força policial. Os funcionários foram informados de que seriam dispensados de suas atividades “pelos próximos 7 dias”, sem maiores detalhes, enquanto o site da Télam ficou inativo e segue fora do ar desde então.
Esta decisão reforça a preocupação com a garantia do pluralismo no cenário midiático argentino, em particular após Javier Milei decretar intervenção nas empresas públicas de comunicação em fevereiro deste ano. O atual fechamento da agência Télam pode representar apenas o primeiro passo de uma longa série de ataques contra os meios de comunicação estatais por parte do presidente que tem uma postura abertamente hostil à imprensa.
"É lamentável que o presidente Javier Milei possa, de um dia para o outro, decretar a morte de uma agência de notícias com quase oito décadas de história no país. O desmantelamento dos meios de comunicação públicos representa um risco real para o pluralismo na Argentina. Para a RSF, o fechamento da Télam é um duro golpe para o jornalismo e o direito à informação. Apelamos pela reversão desta decisão.
A Télam já enfrentou ataques que ameaçaram a sua existência no passado. Criada há 78 anos com o objetivo de divulgar informações em todo o país, a agência de notícias possui correspondentes em todas as províncias da Argentina. Com 700 funcionários, produz cerca de 500 matérias e 200 fotos por dia.
No dia 4 de março, jornalistas locais, sindicatos, representantes políticos e organizações sociais reuniram-se em frente à redação da agência para manifestar o seu apoio e defender a sua existência.
A Argentina ocupa a 40ª posição entre 180 países analisados no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2023 da RSF, 11 a menos que no ano anterior.