Angola: onda de repressão contra a imprensa durante manifestação
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) denuncia o preocupante declínio da liberdade de imprensa após as prisões e agressões a jornalistas durante uma manifestação. A RSF apela às autoridades para que não recorram a métodos de predação da informação que remetam aos dias sombrios da ditadura.
Durante a cobertura da manifestação de 24 de outubro organizada em Luanda, capital de Angola, para denunciar a corrupção, o desemprego e o adiamento das eleições locais que deveriam ter ocorrido este ano, três jornalistas, Suely de Melo e Carlos Tomé, da rádio local Rádio Essencial, seu colega fotógrafo Santos Samuesseca, do jornal Valor econômico, bem como seu motorista Leonardo Faustino, foram presos e detidos sem justa causa pela polícia, sendo liberados 48 horas depois.
Durante a manifestação, que reuniu vários milhares de pessoas, Domingos Caiombo e Octávio Zoba, jornalistas da Zimbo TV, principal canal de televisão privado do país, assim como Osvaldo Silva, fotógrafo da AFP, também foram detidos e soltos algumas horas mais tarde, após serem forçados a apagar as imagens e fotos que haviam coletado.
Contatado pela RSF, Osvaldo Silva relatou ter sido esbofeteado, socado e chutado por policiais. Ao mesmo tempo, seu colega Georges Nsimba, outro fotógrafo da AFP, foi preso pela polícia e obrigado a apagar suas imagens para não sofrer o mesmo destino.
“Ao cobrir essa manifestação, os jornalistas não estavam fazendo nada além de seu trabalho, afirma o responsável pelo escritório da RSF para a África, Arnaud Froger. Essa onda de prisões e agressões constitui um retrocesso preocupante que lembra os momentos sombrios da ditadura. Três anos após a queda do Presidente José Eduardo dos Santos, a liberdade de imprensa continua a ser uma conquista em grande parte inacabada em Angola. Se as autoridades desejam sinceramente virar a página de anos de predação das informações, elas não têm escolha a não ser condenar tais atos e punir seus autores”.
Em outubro, a RSF já havia documentado as graves ameaças e ataques dirigidos a vários meios de comunicação e jornalistas angolanos pela cobertura do caso Edeltrudes Costa, chefe de gabinete do Presidente da República suspeito de ter desviado dezenas de milhões de euros de fundos públicos para fins pessoais. O site de notícias independente Correio Angolense, bem como o jornalista freelance e ex-correspondente da RSF Siona Casimiro, foram alvo de ataques cibernéticos, e o jornalista de economia Carlos Rosado foi censurado por vários canais com os quais colaborava quando manifestou a intenção de falar sobre esse escândalo.
Angola ocupa, atualmente, o 106º lugar entre 180 países no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa estabelecido pela RSF em 2020.