Israel-Palestina: o início de conflito mais mortal desde 2000

O início de um conflito nunca foi tão mortal para os repórteres no século XXI. Em apenas duas semanas, 34 jornalistas foram mortos desde o massacre cometido pelo Hamas em Israel e o início dos bombardeios em Gaza. Pelo menos 12 foram mortos no exercício das suas funções, a grande maioria em Gaza, por ataques israelenses.

Um total espantoso. 34 jornalistas mortos desde 7 de outubro, num território minúsculo. Entre eles, pelo menos 12 repórteres foram mortos durante a primeira quinzena do conflito, no exercício das suas funções, incluindo 10 pelos bombardeios israelenses em Gaza. Os jornalistas estão encurralados numa prisão a céu aberto com 40 quilômetros de extensão, presos numa área incessantemente bombardeada, quando não são os seus escritórios ou eles próprios os alvos. Essas estatísticas estabelecidas pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) demonstram a escala sem precedentes da tragédia para o jornalismo em Gaza. 

Embora os inícios de guerras sejam períodos especialmente letais, as primeiras duas semanas deste conflito foram as mais mortíferas desde o início do século XXI em âmbito internacional.

“No início de um conflito, nunca tínhamos visto tanta violência contra jornalistas desde o ano 2000. O ataque de Israel a Gaza em resposta ao massacre cometido pelo Hamas ficará nos livros de história e nos anais do jornalismo como um dos episódios mais cruéis para os repórteres e para todos os outros civis. O governo israelense deveria compreender que o horror não justifica o horror. O Estado de Israel terá de assumir a responsabilidade perante a História pelas mortes de jornalistas numa escala inédita no século XXI. Apelamos às suas autoridades para que ponham fim aos bombardeios que caracterizam crimes de guerra. Esse recorde desastroso acrescenta uma mancha vermelha cor de sangue a uma história já trágica. Mais jornalistas mortos no exercício das suas funções em duas semanas no Oriente Médio do que desde Fevereiro de 2022 na Ucrânia com a invasão russa. Esta é a triste realidade de um recorde sombrio.”

Christophe Deloire
Secretário-geral da RSF

Mais repórteres mortos no início de um conflito do que no Iraque, no Afeganistão, no Iêmen e na Ucrânia

Entre 7 e 23 de Outubro, o número de jornalistas mortos no exercício das suas funções no conflito israelo-palestino excedeu o de 11 jornalistas mortos na Ucrânia (também no exercício de suas funções). A partir do ataque russo, sete jornalistas foram mortos durante o primeiro mês do conflito. O número também excede o de repórteres mortos durante os primeiros 20 dias da guerra no Iraque em 2003 e o dos mortos no Afeganistão, poucos meses após os ataques de 11 de Setembro de 2001. Entre 11 e 26 de Novembro, oito jornalistas perderam a vida enquanto cobriam a “guerra ao terror” declarada pelo governo Bush. Mais recentemente, logo após a eclosão da guerra civil no Iêmen, seis jornalistas foram mortos entre abril e maio de 2015. Em pouco mais de 15 dias, o número de repórteres mortos em Gaza, Israel e Líbano bateu um recorde.

O ano mais mortal no conflito israelo-palestino desde 2000

Em 2014, nove jornalistas foram mortos do lado palestino, incluindo sete em menos de um mês, durante uma operação militar israelense em Gaza. Desta vez, no âmbito do conflito israelo-palestino, a tragédia assume uma magnitude ainda maior. Sete jornalistas foram mortos em apenas quatro dias, entre 7 e 11 de outubro. Mais recentemente, o repórter da Rádio Al-Shabab, Mohammed Ali, foi morto em 20 de outubro em bombardeios em Gaza. O diretor do canal de televisão Palestine Today, Mohammad Baalouche, e o fotojornalista, cofundador da agência de notícias Ain Media, Rushdi Sarraj, também assessor de vários meios de comunicação internacionais, foram mortos no ataque direcionado à suas casas nos dias 17 e 23 de outubro, de acordo com informações obtidas pela RSF.

Os impactos deste conflito de 2023, de rara violência, são sentidos no resto da região. Pela primeira vez na história israelo-palestina desde 2000, jornalistas foram mortos no mesmo período em solo libanês, israelense e palestino. Fora de Gaza, dois jornalistas também perderam a vida: o fotojornalista israelense do veículo Ynet, Roee Idan, morto pelo Hamas em 7 de outubro em frente à sua casa enquanto filmava, e o repórter libanês da agência Reuters, Issam Abdallah, morto em reportagem em 13 de outubro na fronteira entre Líbano e Israel.

Os países mais perigosos para jornalistas  

No total, desde 2000, quase metade (45%) dos jornalistas mortos em todo o mundo perderam a vida em 7 países em guerra: Iraque, Síria, Afeganistão, Somália, Israel/Palestina, Iêmen.  

O Iraque e a Síria dominam o ranking dos países mais perigosos para a profissão. Com um total de 582 mortos desde 2000, estes dois países devastados pela guerra concentram, por si sós, mais de um terço dos repórteres mortos. No mesmo período, 43 jornalistas foram mortos na Palestina e 5 em Israel, tornando-a a quinta zona de conflito do mundo com mais profissionais da informação mortos no exercício da sua profissão.

A periculosidade da profissão de repórter de guerra é tristemente confirmada pelos números de 2023. Em todo o mundo, a proporção de profissionais da mídia mortos em zonas de conflito aumentou de 32,8% em 2022 para 43,2% em 2023, em 31 de outubro. Desde 1o de Janeiro, 16 dos 37 jornalistas mortos no cumprimento do dever morreram enquanto cobriam zonas de conflito.

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